A MÚSICA NA LITURGIA (3)
(A voz)
Falamos da íntima união que deve existir entre o texto sagrado e a música. Se a melodia e o modo como se executa não serve para dar mais expressão e vida ao texto é preferível que este seja recitado. Vamos falar, então, da preparação dos cantores para que “cantem mais com a alma do que com a garganta”.
Não se pode falar de cantores ou grupo coral sem ter em conta quem os ensaia: o maestro ou orientador. Este tem responsabilidade acrescida e deve procurar, antes de a aceitar, habilitar-se convenientemente. Assim, precisa: de uma boa preparação técnica musical de modo a que seja capaz de distinguir o bom gosto do mau, o sagrado do profano, o lícito (aprovado) do ilícito (não aprovado). Além dos conhecimentos científicos musicais deve ter conhecimento do acto Litúrgico, das partes que o compôe e do simbolismo de cada gesto ou palavra. Só assim será capaz de se integrar plenamente na celebração. Com uma correcta preparação técnica musical e litúrgico-pastoral fará uma correcta escolha de textos e melodias a partir da leitura e análise dos textos de cada domingo.
Sendo a santidade e a beleza uma exigência fundamental da Música Litúrgica, o orientador vai descobrir que as soluções fáceis para uma celebração devem ser rejeitadas. Vai descobrir que, de entre um repertório vastíssimo e de fácil aquisição, só por mau gosto e impreparação é que vai escolher obras de autores de idoneidade duvidosa, não reconhecida nem aprovada pela autoridade eclesiástica.
Escolhido o repertório há que tratar das vozes e de o ensaiar. No início aparecem muitas dificuldades. Com o tempo tudo fica mais fácil. O director do coro deve procurar que nenhum dos elementos do grupo sobressaia com a sua voz o que, em abono da verdade, nem sempre é fácil. Se não tem preparação a nível de canto nem por isso deixará de ter bom gosto e de se aproximar da perfeição procurando que todos cantem uniformemente, com a voz bem colocada, com expressão e dignidade, evitando exibicionismos que desiquilibram o conjunto das vozes. Deve aplicar a dinâmica e a agógica, exigir uma boa dicção de modo que o texto seja perceptível e fazer com que, no caso de várias vozes, haja equilíbrio sonoro.
Não pode esquecer-se que o grupo coral está ao serviço da assembleia e que, tendo a função de “segurar” o canto não deve retirar à assembleia a possibiliadde de participar, ora em partes do canto ora em momentos mais significativos, tais como as aclamações e a respostas ao celebrante. Não é correcto que o grupo coral se satisfaça com o “espectáculo” musical. Os seus objectivos devem ser muito mais nobres.
Compete ao director do coro a preparação e escolha do(s) salmista(s) e outros solistas. O salmista tem um papel muito importante já que o Salmo responsorial é uma parte muito significativa na Liturgia da Palavra. Deve, por isso, ser proclamado por uma das melhores vozes, com uma dicção muito clara do texto, com expressão e sem pressas, fazendo uma respiração, um pouco mais longa, entre os dois primeiros versículos e os dois seguintes.
Há um ditado que diz: “quem canta reza duas vezes”. Mas isso só é verdade quando se canta mais com a alma do que com a garganta ou seja, quando “saboreamos” aquilo que cantamos.
Se uma das finalidades do canto na Liturgia é “elevar os corações dos fiéis a Deus, tornando vivas e fervorosas as orações Litúrgicas, para O louvar e invocar com mais intimidade e eficácia, logo se conclui que o papel do director e do coro, numa celebração, é de muita responsabilidade mas, ao mesmo tempo, muito digno e meritório.
Santo Agostinho dizia que as nossas almas se elevam na piedade e na devoção de uma forma mais perfeita quando as santas palavras são cantadas e os nossos sentimentos encontram no canto uma relação íntima que nos aproxima de Deus. Quando tal não acontece, não admira que haja dissenções e querelas entre os elementos do grupo coral, infelizmente tão frequentes. Compete, então, ao director artístico a difícil missão de fazer consensos e provocar a reflexão.
Vemos, em muitas paróquias (e não só), a dificuldade em conseguir um responsável para orientar o grupo coral. O Padre Pedro Lourenço, responsável pelo 35º Encontro Nacional da pastoral Litúrgica, que se realiza em Fátima, elogiou a presença de cerca de quinhentos jovens músicos neste encontro e criticou o “desprezo” (indiferença) a que estes jovens são votados pelas paróquias, afirmando: “temos um elenco de organistas de alto gabarito, a maioria jovens, muitos dos quais não são aproveitados”. E acrescentou: “há responsáveis de comunidades que rejeitam esses especialistas, pensando que são muito eruditos, exigentes e esquisitos”.
Resumindo: o director e os coralistas devem ser artistas inspirados pela fé e pelo amor.
(Continua)
acostagomes@gmail.com
domingo, 22 de novembro de 2009
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