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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

DIA A DIA SOMOS MENOS....

É verdade. Vão partindo para o outro lado da Vida - em que nos foi dado acreditar- muitos dos nossos colegas e amigos. Daqueles que nos educaram e ensinaram poucos restam. Podem contar-se pelos dedos de uma mão. Dos amigos e condiscípulos já são muitos.
Desde há mais de quarenta anos que, cada um dos condiscípulos de seminário, seguiu o seu caminho. Consoante as suas tendências e capacidades assim se realizaram humanamente. Uns permaneceram mais perto dos caminhos por onde se realizaram como seminaristas: padres, professores, educadores, músicos... Outros andaram por estradas bem diferentes e talvez não sonhadas na adolescência, desde a agricultura às alturas de piloto da aviação civil e/ou militar. Um ou outro, demasiado cedo, foi chamado para a casa do Pai: o António Abreu, o Rocha Pereira... São os caminhos insondáveis do Criador em relação a cada uma das suas criaturas que conhece pelo próprio nome e ama sem medida.
Queiramos ou não, somos cada vez menos e, com fé e esperança, vamos aguardando em vigília a hora que nos pertence e que só Ele sabe. Já são muitas, porém, as graças que temos de dar. Impossível, mesmo, ser suficientemente agradecidos. E somos, também, cada vez menos em muitos projectos que encetamos, muitos deles como complemento das nossas actividades profissionais. Tão poucos que, querendo relembrar os que nos transformaram a mente e moldaram a nossa vontade, já não conseguimos número e tempo suficiente para concretizar tal recordação.
Manuel Faria, Manuel Borda, Manuel Alaio, Alberto Brás, Benjamim Salgado, Fernandes da Silva e Joaquim dos Santos. Falo e escrevo como músico. Tanta inspiração e transpiração destes homens tão ilustres no mundo dos sons para, em pouco mais de quarenta anos, quase cairem no esquecimento. De Manuel Borda, Manuel Alaio, Alberto Brás e Benjamim Salgado não resta uma edição e/ou gravação das suas obras. E, à medida que o tempo passa, tudo será mais difícil porque os nossos coros debatem-se - também eles!- com o problema de falta de vozes. Não tem havido incentivo, provocação, chamamento, motivação para esta causa: o canto coral. A feliz aposta de Manuel Faria - OS ENCONTROS DE COROS PAROQUIAIS- caiu por terra logo após a sua morte. E esses encontros não podem nem devem ser convocados por qualquer voluntário sujeitando-se a ser apelidado de "usurpador". Trata-se de um evento "patenteado" pelo responsável máximo da música diocesana a partir da década de setenta. Ora, para bom entendedor, seria da responsabilidade do seu "imediato" a continuação da obra enquanto não fosse considerada "obsoleta" e despropositada. Como ninguém consegue provar que era despropositada ou obsoleta conclui-se que houve desleixo, houve desprezo, houve falta de espírito eclesial, houve falta de cultura, houve falta de ..... senso comum para permitir a decadência e morte destes encontros. A Comissão organizadora da Semana Santa continua a gastar muitos milhares de euros para pagamento de "cachês" a artistas vindos de outras paragens. Os de cá são de qualidade inferior! E assim vão promovendo o que não é "bracarense". Estes vão sempre de graça. Já Manuel Faria se queixava que nem uma "esmola" era reservada para transporte dos orfeonistas para os encontros de coros na catedral ou outras igrejas da Cidade. Quer a Cãmara (Pelouro da Cultura) quer os responsáveis da Igreja continuam a apostar e a alimentar os valores - aceitamos, com justiça, que são valores- vindos de fora do que na promoção bairrista do que é nosso. Aliás, este é o "espírito" cultural dos nossos governantes. Já assim era no tempo de Domenico Scarllati ou de Domingos Bontempo.
Como dar a volta a esta maneira de pensar tão arcaica? Para quê tanto investimento material em edifícios com fins culturais e recreativos, em monumentos que estão sempre em obras e nunca acabados onde devia imperar o bom gosto, a genuinidade daquilo que é nosso e nos caracteriza como povo de uma província que diz defender as suas características culturais e religiosas?!