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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

CEGOS A CONDUZIR CEGOS



Assim terminei o artigo anterior. Assim começo este.
Participar em algumas Eucaristias tem sido, para mim, um verdadeiro martírio. E as razões são muitas e devidas à formação adquirida pela vida fora. Sempre lutei pela qualidade do canto, pela qualidade da harmonização ao órgão, pela participação dos fiéis no acto litúrgico e pela dignidade que devemos colocar nas palavras, nos gestos e nos movimentos que têm, como fim último, o louvor e a acção de graças ao nosso Deus. Para Ele devemos (re)vestir-nos com aquilo que temos de melhor. No caso da música: a melhor e bem preparada voz, os melhores e mais adequados cânticos, a melhor harmonia e os melhores registos. Se alguma desta coisas falhar- o que é natural, pois somos cheios de defeitos-  que seja o mínimo e que seja por fraqueza e não por arrogante e continuada incompetência. Na Eucaristia em que participei no passado domingo passei cinquenta minutos de martírio. No salmo responsorial (ensinai-nos, Senhor) trocaram as semínimas iniciais por colcheias e o organista troca, num momento fulcral, o acorde de dominante pela tónica. Claro que a muita gente isto nada diz nem se apercebem. Será caso para responder com o ditado popular: "quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão"? Mas estes jovens, tão bons a dominar a internete, não sabem que lá estão todos os salmos prontinhos a ser ouvidos? Falta de zelo pelas coisas de Deus!
Todos os cânticos, de início ao fim, foram somente executados pelos coralistas que, diga-se em abono da verdade, eram bastantes e jovens. Como gostaria de os ter! Não houve um bocadinho em que a assembleia pudesse (por não saber) intervir. Isto é contra todas as normas do canto na liturgia. Pautas não existiam. Somente papeis com os textos e acordes. Valha-nos a boa memória dos coralistas.
Além do órgão ouviam-se algumas violas (4?) que sobressaiam pelos sons estridentes das cordas de aço (podiam ser de nylon) que rasgavam acordes tal e qual como num arraial. Porque não aprendem a tocar em condições? Porque não dedilham a viola? É mais difícil, na verdade. Mas é pelo esforço e pela luta que atingimos mais perfeição, que nos aproximamos do Deus "ciumento" que, de tanto nos ter dado, agora quer que Lhe demos tudo, do bom e do melhor. E tem direito a isso. E, mesmo assim, depois de Lhe darmos tudo, não fizemos mais que a nossa obrigação: podemos e devemos considerar-nos "servos inúteis" pois não fomos além da nossa obrigação. Ele é o Senhor, o princípio e fim de tudo, o que nos há-de receber quando partirmos deste mundo. A Ele, honra e glória por todo o universo.
Mas será com o "batuque" (o pote, como já ouvi chamar), próprio de povos de outro hemisfério, que O vamos louvar? Será com um movimento acentuado (pelo batuque) de marcha que O vamos receber, concentradamente e piedosamente na Comunhão?
Não posso deixar de afirmar que este grupo é "como um rebanho sem pastor". Também não aceitam ou pedem a opinião de um "pastor" credenciado e habituado a "pastorear". Sentem-se auto-suficientes mas não deixam de ser cegos que pretendem conduzir outros cegos. Uma vez por mês.
Tal como os escuteiros, na maior parte das paróquias, são auto-didatas e não precisam de ajuda de ninguém. São donos de si mesmo e não têm satisfações para dar a ninguém. E os pastores, muito complacentes (ou ignorantes?) deixam correr estas autênticas provocações às leis do bom senso, das normas elaboradas pelos legítimos pastores a quem foi confiado o rebanho com a complacência tácita de que "para Deus qualquer coisinha está bem". Nada de mais errado. Destes, disse Jesus: "vomitá-los-ei da minha boca pois nem são quentes nem frios".
Estou a ficar cansado de falar da falta de respeito pelas normas do canto na liturgia. Às vezes pego no "chicote" da palavra para desabafar a raiva que me invade pela profanação do templo de Deus. Creio, porém, que ninguém me lê a avaliar pela falta de respostas críticas ao que aqui escrevo.
Nota: no artigo anterior falei da banda "nova esperança" e disse que temia que, pela elevada qualidade artística dos seus elementos, a mesma ultrapassasse os umbrais da igreja de Frossos. Pois aconteceu mesmo. A assembleia cristã desta paróquia tem, agora, uma "orquestra" para solenizar, com a devida dignidade, o culto Divino.

Não posso deixar de invocar aqueles que tanto admirei e que me precederam na chegada junto de Deus, para que intercedam pela pureza musical na liturgia: Benjamim Salgado, Manuel Faria, Alberto Brás, Fernandes da Silva, Joaquim dos Santos rogai a Deus por nós.