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sábado, 25 de junho de 2016

O MINISTRO EXTRAORDINÁRIO DA COMUNHÃO E O ORGANISTA





Já em tempos alguém, com responsabilidades na Música Sacra da Diocese de Braga, dizia que, tal como o Ministro extraordinário da Comunhão (MEC) tinha de apresentar uma credencial para poder colaborar na distribuição da Sagrada Comunhão em qualquer lugar, também o organista deveria ter um cartão que o identificasse como competente para exercer tal actividade. Na altura manifestei o meu completo acordo.
Recordando este episódio e após  a constatação, durante tantos anos, do estado lastimável da música na Liturgia, a começar pela falta de empenho (ou ignorância?) de muitos pastores modernos (?) creio que este assunto é deveras importante.
Vejamos o que é exigido a um MEC para ser considerado competente para exercer a actividade. 
1.Exige-se que tenha consciência de que a Eucaristia é o centro de toda a vida Cristã e, por isso,  deve agir com o devido cuidado pastoral mostrando a sua devoção para com tão sublime mistério.  Pergunto: e o organista não deve ter o mesmo sentimento cristão e o mesmo empenho pastoral?
2.Devem ser cristãos, membros da comunidade eclesial que participam nas celebrações litúrgicas da Comunidade cristã. Pergunto: o organista não deve, também, participar e ser assíduo à vida litúrgica da Comunidade cristã? Ou vai só dar o ensaio e tocar na Missa como se fosse um assalariado?
3.O MEC é empossado pelo Bispo ou por alguém por ele indicado. Pergunto: quem dá posse ao organista e lhe reconhece competência para exercer um cargo tão importante como é o de levar o povo a cantar os louvores de Deus  segundo as normas aprovadas pela Igreja?
4.O MEC só está autorizado a distribuir a Sagrada Comunhão no Local para que foi nomeado podendo, caso seja solicitado, ajudar em outros locais ou comunidades. Pergunto: que atitude devem ter os párocos e, sobretudo, reitores de capelanias, quando lhe aparece um organista com o respectivo grupo que não só não é conhecido nem é portador de qualquer credencial que o certifique como competente?
5.Ao MEC , como candidato ao exercício, são exigidos vários documentos e- o mais importante- um documento que ateste a sua actividade  eclesial. Pergunto: e ao organista não se exige nada? Pode-se executar qualquer coisa e de qualquer maneira nos actos litúrgicos? Pode ser um “cristão” indiferente?
6.Ao MEC é exigida “sólida piedade Eucarística, comunhão frequente e nível cultural adequado à comunidade que vai servir”. E ao organista não se exige nada? Não precisa de nenhuma formação musical? Não precisa de conhecer as normas saídas do Concílio Vaticano II? Não precisa de “sentir” e comungar com a Igreja de Jesus Cristo?
7.Os mandatos do MEC são por três anos tendo, entretanto, de fazer uma pequena formação. Pergunto: quem dá formação e informação aos organistas?  Bastará dizer que estão sob a “alçada” do pároco? Mas não será óbvio que muitos nem sequer são capazes de avaliar a qualidade dos textos que são executados tolerando inúmeras tropelias nos actos litúrgicos? Acham que se pode pegar em qualquer “cantiga”, mais ou menos piedosa, que se retira da internete e executá-la em actos litúrgicos? Onde está o respeito pelas normas vigentes?
8.Por último, recomenda-se aos MEC que “devem cuidar da sua vida espiritual e empenhar-se na sua formação cristã, participando em exercícios espirituais e em actividades teológicas”. Mas este esforço de permanente formação musical, religiosa e litúrgica não se deve recomendar aos organistas?
Ao falar em organistas entendo, aqui, que também ele é o responsável pela escolha dos cânticos, pelos ensaios e boa execução dos mesmos. Tenho verificado que há uma enorme leviandade nas nossas comunidades chegando ao cúmulo ridículo de mostrar a incompetência através dos meios de comunicação social: rádio e televisão. Qualquer músico não praticante fica horrorizado com o que se canta e o modo como o fazem nas transmissões das liturgias dominicais. Mas ninguém tem a coragem de colocar o dedo na ferida. Parece que estamos numa sociedade eclesial anémica no que diz respeito à música sacra.
Esta reflexão é, somente, uma homenagem ao bom Mestre Manuel Faria no centenário do seu nascimento. É com a competência que todos lhe reconhecem que um discípulo aqui deixa esta reflexão.

acostagomes@gmail.com