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quinta-feira, 16 de maio de 2019

FESTIVAL DE ÓRGÃO- 2019

Já aconteceram 4 concertos mas ainda só pude "ouver" um, em S. Lázaro. Foi um bom espectáculo com "artigo" nacional. Bom para "ouver" mas não para entender. Os "mais" entendidos, os que se acham donos da "verdade" musical, contrariamente à prática de outros paises (Itália, Inglaterra, Alemanha...) acham que as obras musicais devem ser executadas tal como o compositor as deu à luz, isto é, na versão linguística original e, por isso, raramente encontramos uma obra dos grandes compositores traduzida para Português a não ser uma ou outra que venha do latim. O mesmo não fazem os paises atrás referidos. Fica a impressão de que temos falta de poetas. Veja-se, por exemplo, uma das obras mais conhecidas: o "aleluia" de O Messias de Haendel. Só se ouve em italiano ou inglês (original).
Isto vem a propósito de que não entendi nada do que os/as solistas cantaram das cantatas de Bach. Vocalizos atrás de vocalizos, bem difíceis. Percebi, no final de uma das obras, "Amen".

Eu diria "amen" todos os dias se a opção "festival de órgão" fosse mais nacional e pensado para deixar metade  (não seria necessário mais) do orçamento para pagar alguma "coisinha" aos nossos jovens organistas (200 a 300 € mensais) para tocar em todos os órgãos da cidade e ensaiar um pequeno coro que animasse as Eucaristias. 20 órgãos = 20 organistas X 250 € custaria 4,500 € mês X 12= .... ? Não gastarão, em 15 dias, mais de 50 mil € com "vedetas" tão especiais e internacionais?
Há uma ideia completamente errada, da parte da hierarquia, a respeito de jovens e adultos que tocam e orientam coros. Entendem que o devem fazer por "amor" e não por dinheiro. É o caso do falecido organista da Sé de Lisboa onde tocou muitos anos: "Que Deus lhe pague"! - diziam os senhores cónegos. E assim se manteve na esperança. Claro que bem sabemos que Deus já lhe pagou. Mas não ganhou para as solas que rompeu!  De certeza que, neste momento, já lhe pagou cem por um. Mas foram injustos com ele pois o trabalhador merece o seu salário, diz o Evangelho. Quando eu era jovem chamavam-me para muitos lados para ensaiar e tocar. Sempre procurei colaborar com todos. Nunca disse "é tanto" pelo meu trabalho. Mas gostava de receber algum para não ganhar "cotão" nos bolsos. Quem não gosta? E isto levou-me a trabalhar sempre mais a fim de me apresentar com dignidade onde quer que fosse solicitado.
Arranjei para vários organistas algum trabalho pago. Aliás, quando me solicitam para arranjar um organista aviso logo que têm de lhe pagar alguma coisa, no mínimo tanto como a uma empregada de limpeza. Isto no caso de ainda não ser um profissional.
Os nossos superiores hierárquicos preferem manter os órgãos- e são muitos em Braga- calados todo o ano, voltar a gastar dinheiro na sua afinação e reparação por ocasião dos festivais para lhes abrir as "goelas" ao menos "uma vez cada ano", mas não querem que as capelanias, conselhos económicos, etc. estejam a remunerar trabalho "tão banal" como é o de carregar numas teclas donde saem uns sons mais ou menos agradáveis. É como na desobriga: confessar-se ao menos uma vez cada ano. Assim se gastam milhares na saúde de um "animal" meio morto deixando-o ao abandono até ao ano seguinte. Volta, então, a ressuscitar perante o testemunho de uma quantidade de gente que, nessa ocasião, também aproveita para fazer a "desobriga"  de entrar numa igreja, lugar acolhedor sobretudo quando está muito calor cá fora.
Havia normas bastante rigorosas quanto ao repertório dos concertos nas igrejas. Agora voltou-se ao antigamente. Talvez pior. Quantos dos assistentes têm consciência do que representa aquele lugar onde se ouvem sons tão suaves, tão extravagantes, tão exteriores à interioridade habitual desses lugares sagrados!
Claro que esta é a opinião de um leigo (em termos eclesiásticos). Estes, os eclesiásticos, é que terão de dar contas sobre o destino que dão às casas de Deus.

Função do Grupo Coral na Liturgia


            
Tomando, como ponto de partida, os documentos Conciliares Sacrossantum Concilium e Musicam Sacram, podemos tomar pleno conhecimento do papel de um grupo coral nas celebrações litúrgicas, nomeadamente nas Eucaristias. Basta ler os dois documentos referidos.
O coro exerce um ministério (serviço) equiparado aos acólitos, leitores, ministros da Comunhão, etc. A função destes últimos não é (não deve ser) para si próprios mas um serviço à assembleia que, presidida pelo ministro ordenado, tem a primazia e é a razão de ser da celebração litúrgica. Não se envaideça, por isso, o grupo coral pelo facto de cantar muito bem ou de “elevar” as suas vozes acima  de todos os participantes. O coro e cada elemento do mesmo deve estar como quem “serve” , como alguém com dons especiais (ouvido e voz) que contribui de modo mais solene e perfeito para o louvor a Deus e a toda a Criação. Este louvor terá de partir do coração para que não tenhamos de ouvir estas palavras duras: “este povo só me honra com os lábios”.
Não pode nem deve, à maneira do fariseu e do publicano, ter o sentimento de superioridade considerando-se “vedeta” na função que exerce. Dignidade, humildade e serviço, três conceitos muito importantes em cada coralista.
Qualquer coro tem alguém responsável pela orientação, pela preparação, pela escolha e organização. Essa ou essas pessoas devem ser respeitadas, acarinhadas e ajudadas na caminhada de uma adequada preparação do coro. Evitem-se as querelas fúteis que só criam divisão e mal estar, tarefas próprias do diabo (= aquele que divide). Que o director artístico escolha cânticos adequados a cada celebração não só no que se refere ao texto como à qualidade das melodias, ritmos e harmonias.

 Felizmente há muitos directores artísticos bem formados e suficientemente humildes para se questionarem sobre os compositores mais creditados. De qualquer modo a maior responsabilidade é sempre de quem preside à acc ou de um seu delegadocesecimento dos compositores de msobre sobre os compositores mais creditados. De qualquer modo a maior resão litúrgica. Mesmo que não seja perito em música deve-o ser no que se refere à qualidade e proveniência dos textos e ao conhecimento dos compositores de música sacra na sua diocese. Há muitas publicações, ditas sacras,  à venda sem a autorização do Ordinário ou de um seu delegado, com muitos erros teológicos, erros de acentuação silábica e harmonias de má qualidade.
Ao director artístico compete a escolha de cânticos em que a assembleia tenha possibilidade de participar. Quem não o fizer está a desdenhar da maior parte dos que se juntam para, em comunhão (comunidade) louvar o “Pastor que deu a vida pelo seu rebanho”.
Um problema complicado de resolver: facultar os textos à assembleia orante. Em algumas igrejas  há a possibilidade de colocar uma tela para projectar os textos. Outras conseguem, todos os domingos, distribuir uma folha com os cânticos e outras informações úteis para os fiéis. Já tenho referido que nas igrejas protestantes há um costume que, embora pouco inovador, dá muito resultado. Têm um livro de hinos à disposição na entrada de modo que, quem quiser, pega e leva consigo. O organista projecta um número que corresponde a um determinado cântico e,  feita a introdução, todos cantam. Neste caso não há grande renovação de cânticos.
Na diocese de Braga há um enorme repertório de boa qualidade mas impossível de colecionar num só volume. Entretanto ouve-se o povo a cantar, de cor, melodias com mais de setenta anos . Com menos de vinte anos poucas se ouvem; daqui por vinte anos, como hoje os jovens não sentem necessidade de frequentar a igreja, creio que também poucos haverá que saibam meia dúzia de cânticos.
Este é um assunto que merece reflexão e troca de ideias. Acho que os jovens têm uma palavra a dizer e que se devem exprimir livremente. Onde?  Esperemos que surjam respostas.