Páginas

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

O CANTORAL NACIONAL PARA A LITURGIA

Saiu uma nova colectânea de cânticos para a Liturgia sugerida pelo Secretariado Nacional para a Liturgia.
A minha curiosidade em conhecer "novidades" levou-me a solicitá-la via correio. Logo que recebi o grosso volume "devorei-o" da primeira à última página e, claro, soletrei os cânticos. Cheguei à conhecida conclusão que cada diocese (ou instituição) navega em águas próprias e nem "desagua" no mesmo mar (Jesus Cristo e a sua Igreja).
Há muitos livros, alguns volumosos e impróprios para colocar na estante e outros mais fáceis de manejar. A Igreja Bracarense já tem um bom apoio na colectânea "Igreja Canta". Muito bem feito, organizado segundo a liturgia de cada tempo, com indicação dos locais onde se pode ir buscar várias vozes e acompanhamento.
O mesmo não acontece com o referido Cantoral. Do modo como está organizado (?) não facilita a vida a ninguém. Explico: 1. Não entendo a razão da não colocação dos nomes dos autores no local adequado. Só se encontra no índice seguindo o número do cântico; 2.Não entendo que se não indique onde se pode encontrar cada cântico em polifonia (se a tiver) e o acompanhamento organístico; 
3. Olhando para um pormenor das "glórias" questiono-me a quem devo obedecer: ao que me ensinam em Braga ou a estranhos cujos nomes e obra não conheço? É o seguinte: por aqui tem sido ensinado que o refrão da glória, introduzido há bastantes anos por F.ra do Santos, não está conforme a Liturgia, ou seja, a glória deve ser cantada da mesma forma que se recita. Assim tenho feito com as várias "glórias" que o meu coro conhece e com uma outra da minha autoria em que não coloquei nenhuma repetição (refrão). Em que ficamos? Este pormenor será indiferente à boa prática litúrgica?
Penso que andamos como ovelhas sem pastor.
Comprei o Cantoral mas acho que nunca o irei consultar pois não é prático nem consegue chegar à qualidade de outras colectâneas já conhecidas e com outra facilidade de consulta que não existe nesta nova colecção. Fico com pena.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

CONCERTO CORAL “CANTAREI AO SENHOR”




CONCERTO CORAL “CANTAREI  AO SENHOR”


=Apresentação do livro de música litúrgica
 “Cantarei ao Senhor”=

Textos de Cón. Fernando Silva

 Músicas de A. Costa Gomes

Interpretação:
Grupo Coral da ACR de Dume

Direção:  A. Costa Gomes

Organista: Daniel Sousa




Data: 13 de Julho de 2019

Hora: 18,15 h.

Local: Igreja de S. Vítor, Braga

quinta-feira, 16 de maio de 2019

FESTIVAL DE ÓRGÃO- 2019

Já aconteceram 4 concertos mas ainda só pude "ouver" um, em S. Lázaro. Foi um bom espectáculo com "artigo" nacional. Bom para "ouver" mas não para entender. Os "mais" entendidos, os que se acham donos da "verdade" musical, contrariamente à prática de outros paises (Itália, Inglaterra, Alemanha...) acham que as obras musicais devem ser executadas tal como o compositor as deu à luz, isto é, na versão linguística original e, por isso, raramente encontramos uma obra dos grandes compositores traduzida para Português a não ser uma ou outra que venha do latim. O mesmo não fazem os paises atrás referidos. Fica a impressão de que temos falta de poetas. Veja-se, por exemplo, uma das obras mais conhecidas: o "aleluia" de O Messias de Haendel. Só se ouve em italiano ou inglês (original).
Isto vem a propósito de que não entendi nada do que os/as solistas cantaram das cantatas de Bach. Vocalizos atrás de vocalizos, bem difíceis. Percebi, no final de uma das obras, "Amen".

Eu diria "amen" todos os dias se a opção "festival de órgão" fosse mais nacional e pensado para deixar metade  (não seria necessário mais) do orçamento para pagar alguma "coisinha" aos nossos jovens organistas (200 a 300 € mensais) para tocar em todos os órgãos da cidade e ensaiar um pequeno coro que animasse as Eucaristias. 20 órgãos = 20 organistas X 250 € custaria 4,500 € mês X 12= .... ? Não gastarão, em 15 dias, mais de 50 mil € com "vedetas" tão especiais e internacionais?
Há uma ideia completamente errada, da parte da hierarquia, a respeito de jovens e adultos que tocam e orientam coros. Entendem que o devem fazer por "amor" e não por dinheiro. É o caso do falecido organista da Sé de Lisboa onde tocou muitos anos: "Que Deus lhe pague"! - diziam os senhores cónegos. E assim se manteve na esperança. Claro que bem sabemos que Deus já lhe pagou. Mas não ganhou para as solas que rompeu!  De certeza que, neste momento, já lhe pagou cem por um. Mas foram injustos com ele pois o trabalhador merece o seu salário, diz o Evangelho. Quando eu era jovem chamavam-me para muitos lados para ensaiar e tocar. Sempre procurei colaborar com todos. Nunca disse "é tanto" pelo meu trabalho. Mas gostava de receber algum para não ganhar "cotão" nos bolsos. Quem não gosta? E isto levou-me a trabalhar sempre mais a fim de me apresentar com dignidade onde quer que fosse solicitado.
Arranjei para vários organistas algum trabalho pago. Aliás, quando me solicitam para arranjar um organista aviso logo que têm de lhe pagar alguma coisa, no mínimo tanto como a uma empregada de limpeza. Isto no caso de ainda não ser um profissional.
Os nossos superiores hierárquicos preferem manter os órgãos- e são muitos em Braga- calados todo o ano, voltar a gastar dinheiro na sua afinação e reparação por ocasião dos festivais para lhes abrir as "goelas" ao menos "uma vez cada ano", mas não querem que as capelanias, conselhos económicos, etc. estejam a remunerar trabalho "tão banal" como é o de carregar numas teclas donde saem uns sons mais ou menos agradáveis. É como na desobriga: confessar-se ao menos uma vez cada ano. Assim se gastam milhares na saúde de um "animal" meio morto deixando-o ao abandono até ao ano seguinte. Volta, então, a ressuscitar perante o testemunho de uma quantidade de gente que, nessa ocasião, também aproveita para fazer a "desobriga"  de entrar numa igreja, lugar acolhedor sobretudo quando está muito calor cá fora.
Havia normas bastante rigorosas quanto ao repertório dos concertos nas igrejas. Agora voltou-se ao antigamente. Talvez pior. Quantos dos assistentes têm consciência do que representa aquele lugar onde se ouvem sons tão suaves, tão extravagantes, tão exteriores à interioridade habitual desses lugares sagrados!
Claro que esta é a opinião de um leigo (em termos eclesiásticos). Estes, os eclesiásticos, é que terão de dar contas sobre o destino que dão às casas de Deus.

Função do Grupo Coral na Liturgia


            
Tomando, como ponto de partida, os documentos Conciliares Sacrossantum Concilium e Musicam Sacram, podemos tomar pleno conhecimento do papel de um grupo coral nas celebrações litúrgicas, nomeadamente nas Eucaristias. Basta ler os dois documentos referidos.
O coro exerce um ministério (serviço) equiparado aos acólitos, leitores, ministros da Comunhão, etc. A função destes últimos não é (não deve ser) para si próprios mas um serviço à assembleia que, presidida pelo ministro ordenado, tem a primazia e é a razão de ser da celebração litúrgica. Não se envaideça, por isso, o grupo coral pelo facto de cantar muito bem ou de “elevar” as suas vozes acima  de todos os participantes. O coro e cada elemento do mesmo deve estar como quem “serve” , como alguém com dons especiais (ouvido e voz) que contribui de modo mais solene e perfeito para o louvor a Deus e a toda a Criação. Este louvor terá de partir do coração para que não tenhamos de ouvir estas palavras duras: “este povo só me honra com os lábios”.
Não pode nem deve, à maneira do fariseu e do publicano, ter o sentimento de superioridade considerando-se “vedeta” na função que exerce. Dignidade, humildade e serviço, três conceitos muito importantes em cada coralista.
Qualquer coro tem alguém responsável pela orientação, pela preparação, pela escolha e organização. Essa ou essas pessoas devem ser respeitadas, acarinhadas e ajudadas na caminhada de uma adequada preparação do coro. Evitem-se as querelas fúteis que só criam divisão e mal estar, tarefas próprias do diabo (= aquele que divide). Que o director artístico escolha cânticos adequados a cada celebração não só no que se refere ao texto como à qualidade das melodias, ritmos e harmonias.

 Felizmente há muitos directores artísticos bem formados e suficientemente humildes para se questionarem sobre os compositores mais creditados. De qualquer modo a maior responsabilidade é sempre de quem preside à acc ou de um seu delegadocesecimento dos compositores de msobre sobre os compositores mais creditados. De qualquer modo a maior resão litúrgica. Mesmo que não seja perito em música deve-o ser no que se refere à qualidade e proveniência dos textos e ao conhecimento dos compositores de música sacra na sua diocese. Há muitas publicações, ditas sacras,  à venda sem a autorização do Ordinário ou de um seu delegado, com muitos erros teológicos, erros de acentuação silábica e harmonias de má qualidade.
Ao director artístico compete a escolha de cânticos em que a assembleia tenha possibilidade de participar. Quem não o fizer está a desdenhar da maior parte dos que se juntam para, em comunhão (comunidade) louvar o “Pastor que deu a vida pelo seu rebanho”.
Um problema complicado de resolver: facultar os textos à assembleia orante. Em algumas igrejas  há a possibilidade de colocar uma tela para projectar os textos. Outras conseguem, todos os domingos, distribuir uma folha com os cânticos e outras informações úteis para os fiéis. Já tenho referido que nas igrejas protestantes há um costume que, embora pouco inovador, dá muito resultado. Têm um livro de hinos à disposição na entrada de modo que, quem quiser, pega e leva consigo. O organista projecta um número que corresponde a um determinado cântico e,  feita a introdução, todos cantam. Neste caso não há grande renovação de cânticos.
Na diocese de Braga há um enorme repertório de boa qualidade mas impossível de colecionar num só volume. Entretanto ouve-se o povo a cantar, de cor, melodias com mais de setenta anos . Com menos de vinte anos poucas se ouvem; daqui por vinte anos, como hoje os jovens não sentem necessidade de frequentar a igreja, creio que também poucos haverá que saibam meia dúzia de cânticos.
Este é um assunto que merece reflexão e troca de ideias. Acho que os jovens têm uma palavra a dizer e que se devem exprimir livremente. Onde?  Esperemos que surjam respostas.



segunda-feira, 18 de março de 2019

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

A MÚSICA NA LITURGIA


            A doutrina da Igreja sobre este assunto é muito clara: o canto na Liturgia não é exclusivo de um pequeno grupo mas deve dar lugar, também, à participação dos fiéis.
Manuel Faria verberava a execução de certos cânticos (cantigas), de certos instrumentos mal executados e impróprios e o exibicionismo teatral de pequenos grupos. Depois dele jamais voltei a ler no Diário do Minho, jornal oficial da Diocese, qualquer crítica sobre os desmandos consentidos por muitos pastores em muitas paróquias.
Não pode estar correcto  o pensamento, muito generalizado, de que para Nosso Senhor “está tudo bem” desde que, exteriormente, se cante em seu louvor. Pois! E onde está a alma, a pureza de coração, a humildade da oferta e a partilha com a assembleia?
Há uma faceta no culto protestante que muito admiro. Na entrada das igrejas encontra-se uma quantidade de livros que contém hinos (com a respectiva música) e devidamente numerados. O organista digita o número do cântico que aparece num monitor, faz uma introdução e todos se associam acompanhados pela majestosa sonoridade do órgão de tubos. A isto é que chama “participar activamente”.
Entre nós, sobretudo na Diocese de Braga, há um repertório enorme e rico de cânticos para o culto Divino, elaborados nas últimas sete décadas, que torna difícil saber escolher os mais adequados a cada domingo. Em muitos lados, mesmo nos meios de comunicação social, executam “inovações” não aprovadas e desadequadas. Noutros são os coros que assumem o papel principal sem deixar espaço para a maioria dos fiéis. São dois extremos.
Onde está, então, a sensatez? No meio termo está a virtude. Os coros poderão “brilhar” num cântico de ofertório ou final. Nos restantes devem reservar um espaço (refrão) acessível ao comum dos fiéis e “brilhar” na polifonia das estrofes bem declamadas. Quanto às “inovações”, entendo que deve ficar bem claro o ditado popular: “cada macaco no seu galho” ou, então, “quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?”. Se tenho dores de estômago e não sei a origem, vou ter com o médico que, para tal, estudou. Se preciso de um cântico para determinada celebração vou ter com um teólogo poeta para que me faça o texto e a um músico profissional e espiritualmente preparado para fazer a composição. Disse “espiritualmente preparado” para que, em vez de criar uma prece lhe saia um samba. O que sair fora destas normas dos cânones da música para a liturgia não vai além do amadorismo, exibicionismo e, talvez, pietismo balofo e reprovável.
Atrevo-me a relembrar a boa prática de alguns arciprestados, em jeito de conselho. Na preparação dos “tempos fortes” do ano Litúrgico reúnem-se para uma reflexão que vai desde o asseio dos templos aos cânticos mais adequados desse tempo. Escolhem umas dezenas de hipóteses, ensaiam os directores artísticos e estes, os seus coros e assembleias.
Se alguém tiver uma ideia melhor, por favor, dê a sua opinião. Já em tempos apresentei esta ideia no Diário do Minho.            
Toda a minha vida trabalhei com a Igreja e para a Igreja. Mais na música do que em outras tarefas.  Depois de tanto trabalho fico com a sensação de que nada fiz. Acreditem, contudo, que fui sempre bem intencionado. Não posso deixar de sugerir a futuros organistas e directores de coros que não desanimem, que se preparem bem, que nunca pensem que já sabem tudo e, sobretudo, que trabalhem por amor, com humildade e ideias bem claras sobre as  exigências no culto Divino.
acostagomes@gmail.com

A MÚSICA SACRA NA DIOCESE DE BRAGA

-->
Na primeira metade do séc. XX foram vários os músicos compositores, já referidos,  que orientaram gerações de seminaristas, elaboraram muitas obras destinadas ao culto Divino e tiveram enorme influência na aprendizagem de M. Faria.  Nunca foi abandonado o canto Gregoriano. Foi, porém, com Manuel Faria, nas décadas de 60 e 70, que ele atingiu o seu esplendor nas cerimónias litúrgicas na Sé de Braga. Todos os seminaristas tinham de adquirir o “Liber Usualis”, enorme volume em papel bíblico, que continha as principais melodias gregorianas aprovadas pelo Concílio de Trento. Por ele fazíamos, todas as semanas, os ensaios dos cânticos para a liturgia dominical. Dos professores e seminaristas companheiros de Manuel Faria recebemos um elevado número de composições que se divulgaram por toda a diocese que, naquela altura, compreendia Braga e Viana do Castelo.  Cito, de cor, algumas dessas obras: Florilégio Mariano, Florilégio Eucarístico, Saltério Mariano, Saltério Eucarístico, Rosa Mística, Cantar é rezar,  Jubilate, Cânticos da Juventude, Novos cânticos, Florinhas do campo, Louvores à Virgem Maria, Louvores à Mãe de Deus, etc.. Estas colectâneas eram usadas nos seminários e, como é natural, levadas para toda a diocese pelos padres e seminaristas. Não havia, por conseguinte, falta de repertório, ora em latim ora em vernáculo.
Com as reformas e novidades do Conc. Vaticano II surgiram “compositores apressados e obras aligeiradas de todo o género” . Manuel Faria, com uma visão profunda e longínqua do problema, encontrava-se mesmo no centro deste “dilúvio pseudo-musical” tentando acalmar a tempestade de tanto “lixo” sem sentido teológico ou estético. No seminário e a partir dele, poderia formar e reformular a música aplicando o saber, a paixão pela dignidade no culto Divino e o amor aos seus alunos que, mais tarde, seriam portadores da sua mensagem musical.
Ofereceu-se, gratuitamente, para dar aulas de harmonia aos alunos que nisso tivessem interesse. Foram muitos os aderentes que, mais adiante, começaram a elaborar os seus cânticos que, depois de submetidos à Comissão de Música Sacra, eram publicados na Nova Revista, iniciada em 1971.
Foi, também, desta altura a iniciativa de fomentar a criação de grupos corais nas paróquias e os encontros anuais a nível diocesano dos mesmos. Em grupos de 4 ou 5 apresentavam-se, cada ano, num arciprestado com 3 ou 4 obras dos novos compositores. M. Faria aparecia sempre nestes encontros demonstrando carinho e um santo orgulho pelo que via e ouvia. Nos seus comentários não havia “censura”. Mesmo que não corresse bem por alguma desafinação, pelo natural medo ou hesitação, tinha sempre uma palavra de estímulo para com os coralistas e directores. Foram muitos os padres e leigos que se decidiram a um aperfeiçoamento dos conhecimentos musicais chegando, alguns, a realizar cursos superiores na escola de Música Gulbenkian, em Braga, que começava a dar os primeiros passos.
A Diocese deve muito a M. Faria sobretudo por três razões: o seu apaixonado trabalho com os  alunos, semente de futuros compositores e directores; pelo incitamento à formação de coros nas paróquias e fomento de encontros  provocando o gosto pela perfeição; e pela iniciação da Nova Revista de Música Sacra, repositório, até hà uns anos atrás, de mais de um milhar de cânticos adequados às várias circunstâncias da liturgia.
Com a morte de M. Faria, em 83, a árvore já estava grande não havendo, de imediato, o perigo de se desmoronar. Deixou pessoas competentes e apaixonadas que continuaram a sua obra quer a nível da composição quer a nível dos coros paroquiais que, devido à formação de jovens leigos competentes, continuaram o trabalho iniciado.
A NRMS continuou a sair regularmente orientada por um dos seus discípulos, Az. Oliveira, tendo parado a sua publicação há poucos anos atrás. Esta revista foi coligida, em 2005, com excepção dos últimos números, no livro “ A Igreja Canta” que é de enorme utilidade. Não podemos, pois, queixar-nos da falta de cânticos adequados às várias celebrações litúrgicas. Creio, mesmo, que é complicado escolher.
A seguir falaremos deste problema e de outros que começam a surgir.