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domingo, 22 de novembro de 2009

A MÚSICA NA LITURGIA (7)

A MÚSICA NA LITURGIA (7)

(Uma síntese)
Nesta última reflexão sobre a “Música na Liturgia” vamos transcrever um resumo, em 14 pontos, da doutrina da Igreja contida nos documentos referidos logo no início destas reflexões. Trata-se de um folha A4 que, há bastantes anos, nos veio ter às mãos. Vale a pena ficar com este resumo.
1.As celebrações Litúrgicas, sobretudo as dominicais, deverão ser realizadas com canto. Pelo canto a oração torna-se mais vibrante e penetrante levando a assembleia a celebrar mais profundamente a Fé.
2. O canto e a música, na Liturgia, estão ao serviço da Fé na Palavra de Deus. Não pode ser obstáculo à participação activa de todos os fiéis. Por isso, a música deverá ser verdadeira forma de arte e expressão autêntica do mistério que celebra. Daí a importãncia do diálogo entre o Padre (agente pastoral) e o Músico (especialista do som) para se fazer uma boa ligação na acção Litúrgica.
3. Os textos cantados deverão ser Bíblicos ou tirados dos textos Litúrgicos ou neles inspirados. Os textos ou poemas que não tenham esta marca (conteúdo Teológico, rigor doutrinário e qualidade literária) mas, somente, portadores de mensagem deverão ser reservados para exercícios piedosos e/ou convívios em que se pretenda fazer passar a mensagem Evangélica.
4. O canto da assembleia ocupa um lugar de destaque nas celebrações Litúrgicas. É imprescindível a motivação dos fiéis para a participação no canto, nomeadamente no canto de entrada, no salmo responsorial, nas aclamações e respostas ao presidente.
5. Há vários intervenientes no canto Litúrgico: o presidente, o salmista, o coro, o director do coro e da assembleia, o organista e outros instrumentistas. Todos devem revelar: maturidade humana, riqueza espiritual, qualificação musical e competência pastoral. A boa vontade e habilidade, só por si, não chegam.
6. O salmista deve ser um solista com características especiais: com preparação vocal, musical, bíblica e espiritual: anuncia, louva e implora. Canta o salmo no ambão (o lugar destinado ao anúncio da Palavra).
7. O coro também desempenha um ministério (serviço) Litúrgico. Todas as Igrejas deviam ter um coro para animar, estimular e sustentar o canto da assembleia. Os elementos do coro devem ter preparação bíblico-litúrgica, tecnico-musical e espiritual.
8. O director do coro deve englobar as qualidades referidas para o salmista e para os coralistas bem como uma boa preparação musical. A ele compete a escolha do repertório Litúrgico com qualidade musical e a preparação técnica dos coralistas. Não deve dirigir a assembleia e/ou o coro do ambão.
9. As crianças e os jovens devem ser alvo privilegiado para a formação como cantores e animadores da Liturgia. São Igreja em crescimento. É o início da formação. Esta nunca estará completa.
10. A Música Litúrgica visa, em primeiro lugar, o canto (voz) como instrumento principal e vivo do ser humano. Através da voz exprime a riqueza da sua inteligência e a grandeza do seu coração no louvor a Deus.
11. O órgão (de preferência o de tubos) tem como objectivo a sustentação das vozes e a amplificação expressiva do canto. Também o organista deve ter preparação adequada e um desejo constante de melhorar tecnicamente, tudo em função do objectivo essencial na Liturgia. Deve evitar os registos com vibrato e reverberação bem como exibicionismos (mais adequados a concertistas). Os instrumentos não devem abafar as vozes.
12. Poderão admitir-se outros instrumentos que, pelo seu uso ou pelo sentir da comunidade, não estejam identificados com contextos estranhos à Liturgia. Também a sua manipulação deve ter como único objectivo a elevação espiritual de quem os toca e de quem escuta. Nada de instrumentos rítmicos ou de diversão.
13. Não se deve tocar (nada) durante a consagração nem enquanto o sacerdote ou ministro proclama um texto ou recita uma oração.
14. Não à música inspirada nos modelos comerciais, no rock, no jazz e afins. Não às adapatações musicais de mau gosto (vindas de contextos conotados com situações impróprias da Liturgia) e aos textos de conteúdo doutrinário duvidoso (pietistas) bem como aos “encaixados” na melodia sem qualquer rigor métrico.


Com esta síntese damos por concluidas estas reflexões que, esperamos, venham a ser úteis aos Pastores, aos directores e a quantos têm responsabilidade no modo como se louva o Deus Altíssimo, tão alto e infinito como tão próximo da pequenez e miséria humana.

acostagomes@gmail.com

A MÚSICA NA LITURGIA (6)

A MÚSICA NA LITURGIA (6)

(Práticas diversas)
O que ficou escrito nos artigos anteriores é, em resumo, o pensamento da Igreja universal. Os Protestantes, pelo menos no passado, já nos deram exemplo no que se refere à leitura da Bíblia. Continuam a dar no que se refere à Música Litúrgica: usam um livro de cânticos, com a música escrita, nas celebrações. Dá gosto ouvir as suas assembleias a cantar em uníssono.
Também na vizinha Espanha, nomeadamente na Galiza, há o chamado “Cantoral Litúrgico Nacional” apresentado em Orense por D. Ramiro Gonzalez. Na apresentação teceu algumas considerações dignas de reflexão: “as qualidades destes cânticos deve ser julgada pelos competentes; só pode fazer um julgamento quem conhecer as normas da celebração Litúrgica, da Música e do canto Litúrgico e tenha o sentido do ministério; a Sagrada Escritura e a Liturgia são as principais fontes do canto para as celebrações; compositores, instrumentistas e directores artísticos devem conhecer os critérios objectivos e claros que regem a música e o canto na Liturgia; concretamente, na Galiza, há um repertório de coisas boas e menos boas; é preciso insistir na qualidade e inspiração religiosa”.
Nestes apontamentos de D. Ramiro está um resumo perfeito de como deve ser o canto nas celebrações. Resumo idêntico, ainda que mais disperso, está no documento “Música e Liturgia”, de D. Jorge Ortiga, produzido em 2001.
Só quem quer estar com um pé dentro e outro fora da Igreja é que não conhece ou não quer cumprir as normas da Música Litúrgica. Umas vezes será por ignorãncia, imperdoável nos Pastores; outras por teimosia e com a falsa ideia de modernidade e juventude. Aliás, é um disparate aliar a “juventude” à idade de uma pessoa. Pela idade, os mais velhos já por lá passaram; pela juventude de espírito e dinamismo, os mais novos poderão vir a passar.
Um outro exemplo, que não podemos deixar de exaltar, é o que acontece no Arciprestado de Melgaço. Os directores de coros e, com certeza, muitos coralistas e párocos, reunem-se antes de cada “tempo forte” do ano Litúrgico e fazem uma selecção de cânticos adequados às celebrações desse tempo. Ensaiam, então, os cãnticos escolhidos, explicam o sentido dos textos dos mesmos e executam-nos com adequada epressão. A prioridade vai para a primeira voz, como principal. As restantes ficam ao critério e capacidade do director artístico de cada paróquia. O resultado, segundo consta, é magnífico. Entendemos que é um exemplo a seguir em todos os arciprestados.
A escolha dos cânticos adequados a cada domingo deve merecer a atenção dos directores e seus colaboradores. O ideal será fazer a leitura dos textos de cada celebração e, pelo sentido dos mesmos e perante o repertório musical já conhecido, fazer a escolha dos mais adequados. É uma tarefa importante que exige tempo, gosto e paciência.
Temos, em Braga, a Celebração Litúrgica que, para além dos textos de cada domingo, de ideias para as homilias e outros documentos, traz uma sugestão de cânticos para cada momento da celebração. É pena que, pelo menos a sugestão de cânticos, não seja colocada num sítio da internete. A página oficial de Fátima bem como o sítio “MELOTECA” apresentam sugestões. Acontece, porém, que boa parte dos cânticos não são conhecidos no Norte.
(Continua)
acostagomes@gmail.com

A MÚSICA NA LITURGIA (5)

A MÚSICA NA LITURGIA (5)
(O compositor)

O conceito de “compositor musical”, nas últimas décadas, tem sido desvirtuado. Tem um sentido tão lato que, quem inventa qualquer cantiga, mesmo sem a saber passar para o papel pautado, já é considerado compositor. Mas isso não corresponde à verdade.
Compositor é, em princípio, aquele que fez escola e tirou o curso de composição como especialização na Música e dele faz prática. Há (houve) alguns que foram, na prática, auto-didatas. Com muito treino de solfejo, prática coral (no caso, de música para a Liturgia) e algumas lições de harmonia adquiriram a paixão e o gosto pela composição lançando-se na criação de inúmeras melodias quase sempre com muita qualidade. Basta recordar, na diocese de Braga, os Padres Manuel Alaio, Correia, Brás e Borda, entre outros.
Manuel Faria ainda antes de ter qualquer lição de harmonia (em 1938), compôs a conhecida Missa em honra de Nossa Senhora do Sameiro que rapidamente começou a ser executada por todo o lado. Ele mesmo, quando mais tarde aceitou imprimi-la, reconheceu que tinha algumas passagens tecnicamente menos correctas. Mas tem o essencial de uma obra para a Liturgia: tem arte, tem exaltação e júbilo, tem súplica e louvor e, tendo momentos de elevado virtuosismo, não deixa de ter, também, momentos de grande piedade.
Ao compositor, em princípio, não compete a construção do texto. Este, ou é tirado, directamente, dos textos litúrgicos ou é construido em forma poética por alguém que seja conhecedor das Ciências Divinas e cultor da poesia e suas regras. Não é fácil construir um poema com conteúdo doutrinário e com mensagem. Muitos dos que se cantam, mesmo nas celebrações, não são adequados e, acima de tudo, são discriminatórios. Explico: proliferam nas celebrações, sobretudo com jovens, melodias e textos executados com muita vivacidade que, dificilmente são acompanhados pela assembleia não tendo, sequer, uma pequena frase a ela destinada. O coro, nestes casos, monopoliza o direito de cantar.
Temos de aceitar que este procedimento não é aceitável e vai contra as normas conciliares.
Não podemos, porém, assacar responsabilidades somente aos jovens. Eles têm boa vontade e querem fazer o melhor que sabem e podem. A responsabilidade é dos Pastores que não se formam nem informam. Podem não saber cantar ou tocar; mas têm de saber os critérios exigidos pela Igreja no que concerne às celebrações e fazer uma avaliação de quanto se passa, neste caso, das músicas que os jovens escolhem.
Muitas dessas melodias e textos até são interessantes e com conteúdo teológico-pastoral. Mas, porque é que os seus compositores não as submetem à apreciação da legítima autoridade, a Comissão de Música Sacra? Os milhares de cãnticos publicados na Revista de Música Sacra foram avaliados por uma comissão de peritos. “É um grave erro introduzir tal género de música na Liturgia, a pretexto de uma pastoral moderna e actualizada”, lê-se na pág.10 de Música e Liturgia de D. Jorge Ortiga. Será isto uma humilhação para um compositor?
Na diocese de Braga (e não só) temos um repertório imenso e de valiosíssima qualidade, a maior parte produzido por Manuel Faria e seus discípulos. O que faz mais falta é a implementação dos encontros de coros litúrgicos, interrompidos há 25 anos, em que, em sadio despique, cada um procurava executar melhor que o outro. Foi uma época em que, praticamente, desapareceram das Igrejas as “charangadas” que agora voltaram.
(Continua)
acostagomes@gmail.com

A MÚSICA NA LITURGIA (4)

A MÚSICA NA LITURGIA (4)
(Os instrumentos)

O Instrumento musical mais importante é a voz humana. Há que cuidar dela e potenciar as suas capacidades. É um dom maravilhoso. Todavia, desde os tempos mais remotos o homem, com o seu espírito criativo, procurou outras formas de fazer ritmo e melodia. E os instrumentos foram surgindo.
O órgão de tubos, também chamado de “rei dos instrumentos” é, desde há muitos séculos, o instrumento eleito para tocar nos templos sagrados ora a solo ora como “sustento” das vozes.
Como se trata de um instrumento caro e de difíci manutenção recorreu-se, durante quase 150 anos, ao harmónio, mais acessível e mais pequeno. Surgiu no início do séc. XIX e, em muitas igrejas e capelas, ainda se encontram. Tem sonoridades variadas, com muita qualidade em muitos modelos e são constituidos por jogos de palhetas que vibram com a passagem do ar. A partir da segunda metade do séc.XX começaram a surgir os órgãos eléctricos e, mais tarde, electrónicos atingindo uma qualidade muito idêntica aos órgãos de tubos. Também há modelos francamente maus para entrar numa celebração religiosa.
Quer o órgão de tubos, quer o harmónio ou o órgão electrónico exigem conhecimentos razoáveis, no que se refere à registação, para serem usados com qualidade e dignidade. Para acompanhar um coro não se usam os mesmos registos se, porventura, a assembleia também canta. Quando se acompanha um solista, por exemplo no Salmo responsorial, deve-se escolher uma registação mais suave que se altera quando se executa o refrão. Há certos registos, mesmo nos órgãos destinados ao culto nas Igrejas, que nunca se devem utilizar, tais como: o trémulo ou o “reverb”. Dão a sensação de que estamos num “cabaret”.
Em resumo: para se dominar um órgão é preciso estudá-lo, fazer registações prévias se possível, evitar os registos estridentes e ter bom gosto.
E os restantes instrumentos são indignos de entrar na Igreja e nas celebrações Litúrgicas?
Os instrumentos mais adequados e aconselhados são os que indicamos no início. Mas a Igreja não exclui, peremptoriamente, nenhum insrumento. Faz, no entanto, uma recomendação muito séria que é para todos os instrumentos, a saber: que não sejam demasiado ruidosos, que sejam tocados com arte e que contribuam para a edificação dos fiéis.
Será fácil tocar uma viola com arte? Acham que “rasgar” uns acordes já é saber tocar? Reparem no modo como tocam os que frequentam escolas a sério…. Esses que apareçam e a sua arte contribuirá para a “edificação” dos fiéis. É o bom gosto, o conhecimento musical e a dignidade do acto Litúrgico que deve prevalecer pois estamos na presença do Deus Altíssimo.
Poderíamos, neste momento, fazer uma reflexão:
* Será o bom gosto, na escolha dos cânticos e no modo como são executados, que mais se verifica nas nossas celebrações?
* O que se ouve cantar e tocar na Igreja estimula-nos e aproxima-nos de Jesus Cristo?
* Acham que , em muitas Igrejas, os coros são orientados por pessoas competentes e com sensibilidade musical e religiosa? Ou satisfazem-se com a afirmação: foi bonito….
* Se somos nós, povo Cristão, as “pedras vivas” do Templo de Deus porque é que se investe mais nas paredes e no adro da Igreja do que nas “pedras vivas” que a animam?
* Olhando à nossa volta, pelo que vemos, ouvimos e lemos, que comunidade Cristã é que eu escolheria como aquela que me aproxima mais do Deus Altíssimo?
São perguntas pertinentes que não podem deixar ninguém indiferente. Se estas questões não interessam é porque estamos no rol daqueles que “não são quentes nem frios” como disse Jesus.
Temos bons órgãos e bons organistas. Temos bons órgãos e maus organistas. Temos bons órgãos mas sem organistas. Temos comunidades unidas e sempre prontas a colaborar em projectos comuns. Temos comunidades constituidas por pequenos grupos em que cada um trabalha à sua maneira, incapazes de se agregar num projecto comum. Temos comunidades divididas em pequeninas capelas, cada uma com o seu intocável orgãozinho, onde os grupos primam pela mútua maledicência e inveja.
A Igreja, pequena ou grande comunidade local, tem de ser dinamizada pelo Pastor que será o elo de ligação entre todos os movimentos, inclusive o grupo ou grupos corais. O pior que pode acontecer a uma comunidade Cristã é cair na tentação das “capelinhas”.
(Continua)
acostagomes@gmail.com
A MÚSICA NA LITURGIA (3)

(A voz)
Falamos da íntima união que deve existir entre o texto sagrado e a música. Se a melodia e o modo como se executa não serve para dar mais expressão e vida ao texto é preferível que este seja recitado. Vamos falar, então, da preparação dos cantores para que “cantem mais com a alma do que com a garganta”.
Não se pode falar de cantores ou grupo coral sem ter em conta quem os ensaia: o maestro ou orientador. Este tem responsabilidade acrescida e deve procurar, antes de a aceitar, habilitar-se convenientemente. Assim, precisa: de uma boa preparação técnica musical de modo a que seja capaz de distinguir o bom gosto do mau, o sagrado do profano, o lícito (aprovado) do ilícito (não aprovado). Além dos conhecimentos científicos musicais deve ter conhecimento do acto Litúrgico, das partes que o compôe e do simbolismo de cada gesto ou palavra. Só assim será capaz de se integrar plenamente na celebração. Com uma correcta preparação técnica musical e litúrgico-pastoral fará uma correcta escolha de textos e melodias a partir da leitura e análise dos textos de cada domingo.
Sendo a santidade e a beleza uma exigência fundamental da Música Litúrgica, o orientador vai descobrir que as soluções fáceis para uma celebração devem ser rejeitadas. Vai descobrir que, de entre um repertório vastíssimo e de fácil aquisição, só por mau gosto e impreparação é que vai escolher obras de autores de idoneidade duvidosa, não reconhecida nem aprovada pela autoridade eclesiástica.
Escolhido o repertório há que tratar das vozes e de o ensaiar. No início aparecem muitas dificuldades. Com o tempo tudo fica mais fácil. O director do coro deve procurar que nenhum dos elementos do grupo sobressaia com a sua voz o que, em abono da verdade, nem sempre é fácil. Se não tem preparação a nível de canto nem por isso deixará de ter bom gosto e de se aproximar da perfeição procurando que todos cantem uniformemente, com a voz bem colocada, com expressão e dignidade, evitando exibicionismos que desiquilibram o conjunto das vozes. Deve aplicar a dinâmica e a agógica, exigir uma boa dicção de modo que o texto seja perceptível e fazer com que, no caso de várias vozes, haja equilíbrio sonoro.
Não pode esquecer-se que o grupo coral está ao serviço da assembleia e que, tendo a função de “segurar” o canto não deve retirar à assembleia a possibiliadde de participar, ora em partes do canto ora em momentos mais significativos, tais como as aclamações e a respostas ao celebrante. Não é correcto que o grupo coral se satisfaça com o “espectáculo” musical. Os seus objectivos devem ser muito mais nobres.
Compete ao director do coro a preparação e escolha do(s) salmista(s) e outros solistas. O salmista tem um papel muito importante já que o Salmo responsorial é uma parte muito significativa na Liturgia da Palavra. Deve, por isso, ser proclamado por uma das melhores vozes, com uma dicção muito clara do texto, com expressão e sem pressas, fazendo uma respiração, um pouco mais longa, entre os dois primeiros versículos e os dois seguintes.
Há um ditado que diz: “quem canta reza duas vezes”. Mas isso só é verdade quando se canta mais com a alma do que com a garganta ou seja, quando “saboreamos” aquilo que cantamos.
Se uma das finalidades do canto na Liturgia é “elevar os corações dos fiéis a Deus, tornando vivas e fervorosas as orações Litúrgicas, para O louvar e invocar com mais intimidade e eficácia, logo se conclui que o papel do director e do coro, numa celebração, é de muita responsabilidade mas, ao mesmo tempo, muito digno e meritório.
Santo Agostinho dizia que as nossas almas se elevam na piedade e na devoção de uma forma mais perfeita quando as santas palavras são cantadas e os nossos sentimentos encontram no canto uma relação íntima que nos aproxima de Deus. Quando tal não acontece, não admira que haja dissenções e querelas entre os elementos do grupo coral, infelizmente tão frequentes. Compete, então, ao director artístico a difícil missão de fazer consensos e provocar a reflexão.
Vemos, em muitas paróquias (e não só), a dificuldade em conseguir um responsável para orientar o grupo coral. O Padre Pedro Lourenço, responsável pelo 35º Encontro Nacional da pastoral Litúrgica, que se realiza em Fátima, elogiou a presença de cerca de quinhentos jovens músicos neste encontro e criticou o “desprezo” (indiferença) a que estes jovens são votados pelas paróquias, afirmando: “temos um elenco de organistas de alto gabarito, a maioria jovens, muitos dos quais não são aproveitados”. E acrescentou: “há responsáveis de comunidades que rejeitam esses especialistas, pensando que são muito eruditos, exigentes e esquisitos”.
Resumindo: o director e os coralistas devem ser artistas inspirados pela fé e pelo amor.
(Continua)
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A MÚSICA NA LITURGIA (2)

A MÚSICA NA LITURGIA (2)

(O texto Sagrado)
A Música em geral e, em particular, o canto sempre foi parte integrante das celebrações Litúrgicas. Já nas Sinagogas Judaicas se cantavam os Salmos, os mesmos de hoje, muitas vezes com acompanhamento de instrumentos: da lira, da cítara e outros.
No Novo Testamento, sobretudo depois de concedida a liberdade ao Cristianismo, esta prática continuou e cresceu muito. O canto na Liturgia sempre constituiu uma das mais belas formas de exprimir a alegria em Cristo ressuscitado. Consoante os diferentes tempos do ano Litúrgico exprime, também, louvor, acção de graças, júbilo, súplica, lamento, tragédia, arrependimento, profissão de fé, etc.
A “arte de bem celebrar” o acto Litúrgico foi e deve ser sempre a grande preocupação não só dos Pastores mas de todos os seus colaboradores.
O canto oficial da Igreja é o Canto Gregoriano, monódico e em latim, que teve o seu apogeu pelo séc. X, após a reestruturação de S. Gregório Magno. No Concílio de Trento foi confirmado como tal. Todavia, como a polifonia sagrada tinha atingido, no Renascimento, enorme esplendor, também esta foi considerada digna e nobre para ser executada nos actos Litúrgicos sem colocar de lado o Canto Gregoriano. O Concílio Vaticano II veio confirmar a posição eclesial de Trento sugerindo aos compositores novas obras, adequadas aos novos tempos, mas sempre apelando à nobreza artística e à finalidade a que se destinam.
Em todos os tempos surgiram boas e más composições, segundo os critérios de apreciação de cada época. No tempo de S. Gregório Magno proliferavam tantas melodias nas comunidades Cristãs, muitas sem o mínimo de qualidade musical e pouca ortodoxia nos textos, que o levou a promover uma reforma de tal ordem que só ficaram as melodias e textos consideradas mais adequados à Liturgia. O mesmo haveria de acontecer, muitos séculos depois, no Concílio de Trento. A tarefa de expurgar o “menos digno” de entrar na Igreja coube a Palestrina, compositor muito prestigiado na altura e da confiança dos Padres Conciliares. A sua música sacra ainda hoje é recomendada como fonte de inspiração para novas composições litúrgicas.
O Concílio Vaticano II veio, através da Instrução “Musicam Sacrae Disciplina”, chamar a atenção para os mesmos problemas: a qualidade dos textos e a arte da música que deve estar ao serviço daquele com a única finalidade de os elevar espiritualmente e de nos aproximar do Divino. Pediu a rejeição de tudo o que levasse à mistura de contextos, ambientes e expressões sem sentido que desvirtuem a autenticidade da celebração, nomeadamente géneros de músicas que denotam ambientes de divertimento ou tragam à mente situações que nada tenham a ver com o acto Litúrgico.
As soluções musicais fáceis estão en contradição com as exigências do Evangelho de Jesus Cristo. Não passam, nos nossos tempos, de propostas ou tentações da sociedade de consumo em que estamos mergulhados.
A Igreja reconhece que os caminhos de Deus não se anunciam ou promovem com facilitismos que despertem , simplesmente, emoções passageiras ao sabor das modas, quase sempre superficiais e sem qualidade artística. É a qualidade artística, por si só difícil e exigente, que atinge o íntimo da pessoa e a conduz à intimidade com Deus. Não é fácil; mas é possível, tal como o grande desejo de Jesus: “sede perfeitos como o Pai do céu é perfeito”.
É da máxima importância estar atento à norma que não permite a alteração dos textos do Ordinário da Missa. É muito comum ouvir-se o “Santo” com o texto deturpado ou alterado. As melodias construidas para este cântico de aclamação devem respeitar, na íntegra, a sequência do texto. Acontece, também, a substituiçao do “Cordeiro” por um cântico de paz. Está errado até porque, da última vez, já se diz “dai-nos a paz”. Está muito errado substituir o salmo responsorial por outro cântico que nada tem a ver com os textos que são proclamados.
(Continua)
acostagomes@gmail.com

A MÚSICA NA LITURGIA (1)

A MÚSICA NA LITURGIA (1)

A partir da Encíclica “Musicae Sacrae Disciplina” de Pio XII, do documento conciliar “ Musicam Sacram” de 1967 e do documento “Música e Liturgia” de D. Jorge Ortiga de 2001, pretendemos recordar os critérios e normas das exigências qualitativas da Música nos actos Litúrgicos. Há bastante tempo que o assunto não é abordado e, como é natural, vão-se esquecendo as boas práticas e introduzindo novidades de qualidade duvidosa.

O “fato de louvar a Deus”
Ainda há muitas pessoas que se lembram deste dito e do porquê do mesmo. O melhor fato (se não o único, para muita gente) estava reservado para o domingo, para ir à Missa. Para Deus reservava-se o que havia de melhor recordando as “primícias das colheitas” que eram oferecidas no Templo. O chamado “fato de louvar a Deus” ou “fato domingueiro” só se vestia para ir à Igreja ficando, durante a semana, guardado até ao domingo seguinte.
Sejamos, então, coerentes. Se tanto empenho se colocava no “louvar a Deus” no aspecto exterior da pessoa, quanto melhor não deveria ser a predisposição interior na preparação da acção Litúrgica, do autêntico e agradável louvor a Deus? Se assim não for, a imprecação de Jesus contra os fariseus terá adequada aplicação a nós mesmos e ao nosso procedimento: “hipócritas, sepulcros branqueados….” Há uma mentalidade, em muitas cabecinhas, de que para Nosso Senhor “qualquer coisinha” serve desde que seja piedosa.
Vamos tentar, por isso, preparar da melhor maneira a festa dominical. Sem exibicionismos balofos e sem artificialismos desnecessários; sem prelecções e aditamentos que prolongam o acto Litúrgico e sem pressas que transformem a assembleia em grafonolas no máximo de rotações; com alegria exterior mas, também, com muita interioridade; de pé e cabeça erguida mas, também, batendo no peito e reconhecendo que somos fracos e pecadores; reconhecendo que somos ignorantes e humildes, sempre à procura da Verdade; que somos imperfeitos mas sempre à espera do sopro Divino para fazermos, em tudo, o melhor possível.
Deste modo poderemos desempenhar com um mínimo de dignidade, que pedimos no acto penitencial, as funções Litúrgicas que nos são pedidas e estão ao nosso alcance, prestando um serviço de qualidade à assembleia orante.
Vamos falar somente da Música ao serviço da Liturgia. Fá-lo-emos baseado nos documentos acima referidos, tentando colocar a Música a enobrecer o texto; a voz a exprimir os sentimentos que louvam o Criador; o Grupo Coral a incentivar a assembleia a participar, a meditar e a contemplar; os instrumentos musicais, tocados com gosto e arte, a dar ênfase às vozes num majestoso hino de louvor; o compositor que, como uma “corda tensa”, vibra inspirado pelo texto sagrado e, no silêncio, tece a harmonia dos sons que dulcificam o ouvido e enternecem o coração; finalmente, algumas dicas, fruto de uma já longa experiência ao serviço da Música Litúrgica.
Com humildade, espero ser útil aos leitores que “comem do mesmo pão” semanalmente.
(Continua)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ORIENTAÇÕES SOBRE A MÚSICA SACRA (um pouco de história)


* Já no A.T. “todo o Israel dançava diante de Deus com instrumentos de madeira trabalhada: cítaras, liras, tímpanos, sistros e címbalos”.
As primeiras recomendações:
David fixou as regras da música no culto sagrado.
* As primitivas comunidades, mesmo antes de surgir o dia, cantavam um hino a Cristo.
* Tertuliano diz que, nas assembleias dos cristãos “se lêem as Escrituras, cantam salmos e promove-se a catequese”
* Após a liberdade concedida à Igreja surgiram novos hinos, novos cânticos consoante a cultura dos povos que se convertiam ao cristianismo.
Início da Polifonia:
Após o séc. IX/X, com o surgimento de novos hinos e novas formas de cantar, a música litúrgica haveria de atingr o seu esplendor nos séc. XV/XVI com o apogeu da polifonia e dos conjuntos vocais acompanhados com o órgão de tubos.
* Como em todos os tempos, os abusos foram surgindo e houve necessidade da intervenção da autoridade eclesiástica no sentido de expurgar da música sacra tudo o que não contribuia para a sua verdadeira finalidade.
Conclusão (por ocasião do Concílio de Trento): * A liberdade do artista (compositor ou director) deve sujeitar-se à finalidade última da sua criação: o culto divino.
* Assim, qualquer arte religiosa, exige artistas inspirados pela fé e pelo amor.
* A finalidade principal é a de elevar piedosamente a sua mente para Deus.
Características da Música Sacra: * A Música, enquanto parte integrante da própria liturgia, é uma das mais belas e elevadas formas de manifestação da nossa alegria Pascal.
* Exprime, não só, louvor, acção de graças, exultação e júbilo mas também súplica, lamento, tragédia, arrependimento e profissão de fé.
(Ver o sentido dos textos)

Arte de “bem celebrar” (mesmo para os sacerdotes):
Todos estes sentimentos ocorrem durante o acto litúrgico. A arte de os bem celebrar deve ser a grande preocupação, não só dos pastores mas também de todos os seus colaboradores. Desde o início do Cristianismo não só foram seguidos os modelos de canto das sinagogas como incorporadas outras formas de cantar dos povos que se foram convertendo.
O Concílio de Trento confirmou:O repertório criado ao longo de vários séculos, partindo do canto monofónico (gregoriano), que conduziu à grande polifonia sacra da renascença, é vigorosamente defendido no Concílio de Trento;
* Nos nossos dias, continua a ser recomendado como modelo de inspiração para novas textos e novas melodias (Conc. Vaticano II).

Exigências para o nosso tempo:
É nosso dever manter vivo o tesouro musical herdado e enriquecê-lo com novas obras. Mas esta tarefa tem o profundo alcance de tocar a intimidade das pessoas que se dirigem a Deus. Daí a exigência de qualidade artística, a mesma do passado, porque só a qualidade atinge o íntimo da pessoa. Isto implica que se evitem os extremos da mera repetição do que já existe ou da experimentação do que é fácil, banal e sem critério. A Igreja sempre procurou celebrar o Mistério Pascal com os elementos artísticos e culturais mais nobres de cada época da História considerando a ARTE como um meio privilegiado de contactar com as realidades divinas.

Adequada preparação : :Preparação técnica e litúrgico-pastoral para uma correcta escolha de textos e melodias.
Qualidade artística: a música litúrgica tem como exigência fundamental a santidade e a beleza para que possam alimentar a oração e exprimir o Mistério de Cristo.

“CANTORAL LITÚRGICO NACIONAL”- Galiza: O Secretariado Nacional de Liturgia de Espanha publicou a segunda edição do Cantoral Litúrgico Nacional. Na sua apresentação, Dom Ramiro Gozalez, de Orense, entre outras reflexões, fez as seguintes:
1- A qualidade destes cânticos deve ser julgada pelos “competentes”. Excluem-se os critérios de gosto, facilidade e popularidade.
2- Só pode fazer um julgamento quem conhecer as normas da celebração litúrgica, da música e do canto litúrgico e tenha o sentido do ministério (saiba o que está a fazer).
3- A Sagrada Escritura e a Liturgia são as principais fontes do canto para as celebrações.
4- Compositores, instrumentistas e directores artísticos devem conhecer os critérios objectivos e claros que regem a música e o canto na Liturgia.
5- Concretamente na Galiza, há um repertório de coisas boas e menos boas. É preciso insistir na qualidade e inspiração religiosa.
(Estas são as recomendações do responsável pela Liturgia em Orense)

Soluções fáceis?: As soluções fáceis estão em contradição com as exigências do Evangelho de Jesus Cristo. As soluções fáceis e o exteriormente agradável são propostas da sociedade de consumo em que vivemos. Os caminhos de Deus não se anunciam ou promovem com facilitismos que despertam simplesmente as emoções passageiras ao sabor das modas, superficiais e sem qualquer qualidade artística.
Jesus não nos disse “que a porta é estreita”?

GÉNEROS DE MÚSICA: Litúrgica e não litúrgica : Só os especialistas, seriamente preparados, quer em música quer em liturgia, é que serão capazes de fazer esta destrinça.
Tantos livros publicados e vendidos em livrarias da diocese!.... Com melodias interessantes mas que em nada sublimam os textos..... Com textos interessantes mas com pouco gosto literário e, até, erros teológico-pastorais!.....

Abusos....:
Sobretudo, após a segunda metade do séc. XX, determinados géneros de música conotados com ambientes de diversão, foram introduzidos nas celebrações. Isto só foi possível devido à falta de formação litúrgica e musical, agravada pela falta de formação religiosa e humana.

“Imprimatur” ou “nihil obstat”:
Exige-se, da parte dos compositores e directores artísticos, a suficiente humildade para se auto-examinar se são ou não especialistas preparados em música e liturgia. São indispensáveis a um compositor e director de música litúrgica a preparação técnica musical, a preparação em liturgia e nos ritos que a acompanham, a formação religiosa e a piedade cristã e, não menos importante, a humildade suficiente para sujeitar as suas composições a uma comissão dependente do Bispo a fim de serem ou não aprovadas para os actos oficiais da liturgia Divina.

Comissão de Música Sacra: As obras de cariz religioso, incluindo as musicais, devem ser revistas por uma comissão nomeada pelo Bispo a fim de se pronunciar sobre a sua “elevação” espiritual e, assim, “obter” o chamado “imprimatur” (imprima-se) ou “nihil obstat” (nada obsta a que se imprima e seja divulgada).

Democracia ou Teocracia? A Igreja nem é democracia nem Teocracia.
Não é democracia porque há normas tão fundamentais e naturais que nem o voto de muitas nações as poderiam alterar. Tudo o que seja “anti-natura” não pode ser alterado pelo homem com as suas leis.
Teocracia? O povo Hebreu chegou a governar-se por uma teocracia: só a Lei de Deus é que contava. Mas vieram os exageros na interpretação da vontade de Deus!...

Deus (Jesus Cristo) deu-nos algumas normas de conduta; mas deixou ampla liberdade ao ser humano para as concretizar. O fundamental é: amar a Deus e amar ao próximo. Nada mais. Mas, então, ninguém manda na Igreja?

Função dos Bispos: Mas a liberdade tem limites: os limites da decência (a nobreza no louvor Divino) e “o outro” (na relação humana).
Então, o Bispo como sucessor dos Apóstolos, deve cumprir a ordem: “tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado será desligado nos céus".
Ele é, por isso, numa lógica de fé, a autoridade legítima constituida por Jesus Cristo.

CELEBRAÇÕES COM JOVENS : Há uma tendência generalizada de, nas chamadas “eucaristias para ou com jovens” , se executarem cânticos (ou canções) muito próprias da sua jovialidade mas com pouco sentido litúrgico. Por vezes não têm nada a ver com os textos proclamados.
Acontece, ainda, que não sendo toda a assembleia constituida por jovens, estes como que “impõem” um determinado estilo que nada diz aos mais velhos, ou seja, não permitem a participação da assembleia.

Prudência...: É necessário caminhar para o meio termo e recordar os princípios básicos: competência musical e competência litúrgica. Ao pastor ou alguém da sua confiança compete supervisionar, elucidar, formar e informar.

Os Pastores (sacerdotes) têm tanta obrigação de o fazer como um professor tem obrigação de cumprir o programa da sua área disciplinar.
E com crianças? É um hábito muito mau – e isto acontece mais quando os cânticos são para as crianças – fazer adaptações de textos para melodias de outras proveniências, muitas vezes completamente profanas ou lúdicas.
Por onde se dividirá o pensamento das crianças: pelo texto, supostamente de cariz religioso ou pela melodia de carácter lúdico e profano?

O fato domingueiro: Muitos ainda se lembram de guardar um fato “melhor” para vestir ao domingo quando ia à Missa. Ao chegar a casa guardava-se até ao domingo seguinte. Porquê?
A melhor roupa era para o “dia do Senhor”. E nos cânticos, leituras, etc: serve qualquer “coisinha”? Por ignorância? Por desleixo? É preciso mudar a mentalidade. Será caso para dizer: é necessário contrariar a ideia (moderna?) de "ser progressista". Talvez seja melhor ser "tradicionalista". É que os nossos antepassados deixaram-nos uma riqueza extraordinária. Não é verdade que hoje, -e ainda bem que é assim- se dá tanto valor aos achados arqueológicos?!

RESUMINDO:A música sacra deve:
*Trazer decoro e ornamento às vozes do sacerdote e do povo cristão que louva o Deus Altíssimo;
*Elevar os corações dos fiéis a Deus tornando vivas e fervorosas as orações litúrgicas e, assim, louvá-lO e invocá-lO com mais intimidade e eficácia;
* Devem, portanto, os cânticos serem executados com voz límpida e adequada expressão que só pode nascer da alma.

Santo Agostinho diz que as nossas almas se elevam na piedade e na devoção de uma forma mais perfeita quanto as santas palavras são cantadas e os nossos sentimentos encontram no canto uma relação íntima que nos aproxima de Deus.

ESCOLHA DOS CÂNTICOS adequados a cada celebração (Dominical):
* O ideal é fazer uma análise das leituras e, a partir daí e dentro do repertório que for conhecido em cada coral, fazer uma selecção de cânticos adequados.
* Fontes de recurso (na internete): Meloteca e Santuário de Fátima

COMO ENSAIAR UM GRUPO CORAL? (Algumas dicas) : Se a obra é a uma só voz deverá proceder-se da seguinte forma:
1- Entoar toda a obra (para ficar com uma ideia do todo);
2- Ensaiar uma frase de cada vez. Ouvem bem o ensaiador e, depois, repetem várais vezes.
3- Vai juntando mais frases e o coral vai repetindo.
4- Tenta a execução de toda a obra e corrige os possíveis erros.
5- Aplicar a dinâmica, colocar bem as vozes (perceptibilidade), controlar o volume (sem vozes salientes), homogeneidade.
Nada de exibicionismos. Quem os pratica fica mal visto, é criticado e não presta um serviço a Deus e à comunidade.

Se a obra é a várias vozes: O processo será o mesmo. Todavia, para não saturar o ensaiador (a menos que haja vários), este deverá fazer a gravação de cada voz em cassete como se se tratasse de uma só voz. Cada naipe, com o seu gravador e cassete, vai para uma sala e vão tentando decorar a obra. Passados poucos minutos esta está pronta a ser executada em conjunto.

Como dirigir com alguma correcção?
Não exagerar na marcação da pulsação;
Marcar, de preferência, o compasso;
Fazer uma géstica simples mas muito precisa para boa segurança do coral;
Fazer a selecção dos solistas pelas suas qualidades musicais e não por simpatias.

CANTEM MAIS COM A ALMA DO QUE COM A GARGANTA:
Sintam o que cantam;
Dêem sentido (alma) ao texto;
Não se limitem a serem máquinas de escrever ou grafonolas ;
Louvem a Deus, mesmo nos ensaios: estando atentos, dando expressão sem pieguices nem gritos de arraial.
Deus ouve-nos mesmo quando estamos calados.

OS INSTRUMENTOS na Liturgia:
* O instrumento, por excelência, é o órgão de tubos.
* O harmónio tradicional
* O órgão electrónico desde que se aproxime, em termos sonoros, do órgão de tubos. Há péssimas imitações.
* Os restantes instrumentos, sobretudo os de orquestra, desde que executados com perícia e sobriedade.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

COMO POSSO CALAR-ME?


Gostaria de uma vida mais calma, sem sobressaltos embora com trabalho, muito trabalho. Mas profícuo. Todavia, perante certos acontecimentos capazes de fazer "irritar" Manuel Faria se estivesse, fisicamente, no nosso meio, para ser coerente comigo mesmo também não me posso calar. Pouco adianta falar mas devo fazê-lo. É uma das características dos tempos que atravessamos. Há menos de 40 anos nada se podia dizer pois "até as paredes tinham ouvidos". Volvidas quatro décadas, podemos dizer tudo: opinar, sugerir, questionar, provocar e, até, insultar que ninguém quer ouvir. Vamos ao caso.
Há algum tempo participei numa Eucaristia concelebrada por seis padres: cinco com menos de quinze anos de ordenação e um outro mais velho. De todos os cânticos (ou cantigas ou canções) somente um era meu conhecido, embora não simpatize com ele. Das restantes cantigas nenhuma passou pelo "crivo" da respectiva autoridade teológica, pastoral ou musical. Portanto sem o respectivo "imprimatur". Aliás é banal encontrar na Livraria do Diário do Minho músicas "ditas" litúrgicas, que são executadas na liturgia, mas que não têm o visto de qualquer autoridade eclesiástica. Manuel Faria diria: "É INDECENTE" e anatematizava a livraria bem como quem a dirige. Pode-se dizer, com toda a propriedade, que as cantigas "ditas" litúrgicas aqui vendidas estão a "PROFANAR" o templo de Deus e a dar lucro "imoral e ilícito". Ou será que, quem dirige esta livraria, pensa que a maioria dos músicos (?) que estão a orientar o canto nas nossas igrejas são capazes de discernir entre o que é bom, menos bom e medíocre? Alguém pensará que é profano? Vendido numa livraria diocesana? Santa inocência!!!!
Voltemos à Eucaristia em que participei. Nenhum dos fiéis, além do coral, colaborou nos cãnticos (cantigas, canções...) executadas pelo coro, ou seja, o canto não cumpriu a sua função: levar os fiéis a participar, de modo mais sublime, na liturgia. MAS CANTARAM OS CINCO PADRES MAIS NOVOS!!!!!! TODAS.
Este facto surpreendente levou-me a tirar uma conclusão: não são apenas as livrarias,mesmo sem partituras (mas somente com textos e CDs) , que contribuem para o estado em que se encontra a música sacra. A formação musical anda mal no seminário. Não se incute nos seminaristas o gosto pela boa música e pelos autores consagrados, os tais que são de ontem, de hoje e de sempre. Não se pratica, com frequência diária, aquela música que saiu da mente dos nossos ilustres Mestres. Não admira, por isso, que os novos Padres façam tábua rasa das normas bem claras do conceito de música sacra. O que irá ficar para, mais tarde, os jovens de agora recordarem? É que, queiram ou não, falta pouco tempo para serem "velhos", da nossa idade. Vão recordar-se destas "modas" rapioqueiras? Ou irão calar-se porque nada sabem?
Está a acontecer na IGREJA o mesmo que na Educação pública: o facilitismo, o infantilismo e o porreirismo litúrgico que é tanto do agrado de muitos papás e catequistas. Neste assunto o Padre já não é capaz de "ser um moderador", de ter uma opinião ou, quiçã, de contrariar com mais ou menos diplomacia, a vontade dos seus colaboradores. A música e o canto não é imprescindível para sermos santos. Mas ajuda se for de boa qualidade literária, teológica, pastoral e musical. Mas... a nível das cúpulas nada se tem feito. Lamentável.
Só mais uma achega. Passei pela Catedral, repito, pela Catedral de Braga, onde existem três bons órgãos de tubos e uma "gaitinha" electrónica desafinada e, qual o meu espanto quando ouvi cantar (gritar) ao som dos arames de uma ramada. Por amor de Deus!!!!! Ao domingo, como antigamente, vistam o melhor fato. É o dia do Senhor. Deixem a roupa mais velha para os trabalhos da semana.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

CONCERTOS DA QUARESMA DE 2009


Passou mais uma Semana Santa, a de 2009 e, como vem sendo hábito, realizaram-se vários concertos ora na Sé ora noutros locais. Ouvimos "prata da casa" e "prata" de outros cofres. São normas Diocesanas, no que se refere às festas religiosas, expurgá-las de tudo quanto seja menos "cristão", menos condizente com o religioso, razão e fim de determinada festa. Mesmo, neste campo, as comissões de festas "devem prestar contas ao Conselho Económico".
Um concerto, para além do seu carácter cultural e lúdico, deve ser um investimento e, como tal, deixar alguma mais valia para o público a que é dirigido. Ora, nesta Augusta Cidade, cada vez menos se conjugam estes factores.
Começando por Giampaolo Di Rosa, exímio organista, nada tem a ver com a nossa Sé Catedral a não ser o facto de realizar vários concertos, de belíssima qualidade, em troco de um justo pagamento. Mas, daqui até ser nomeado "organista titular da Sé de Braga" vai uma distância astral. Silbertan Blanc, ORGANISTA TITULAR DA SÉ DE LISBOA, está lá para todo o serviço manipulando com maestria o órgão que confere às cerimónias litúrgicas uma dignidade a léguas de distância do que se passa na Sé de Braga. É que, o organista titular, não é "titular" só para dar concertos mas, sobretudo, para as cerimónias litúrgicas que, se dão algum dinheiro, deve ser muito pouco. Em termos de música sacra, em Braga, temos como lema, desde há duas décadas, que "para Nosso Senhor qualquer coisinha está bem". Tenho de dizer, com conhecimento de causa: "perdoai-lhes, Senhor, porque não sabem o que fazem", pois não percebem nada de música.
O mesmo aconteceu no último concerto, Oratória "Paulus", de grande qualidade e imponência mas em que, mais uma vez, se apostou na regra: o que é de Braga não presta e paga-se uma fortuna para se ouvir o Coro da Sé do Porto e a Sinfónica da mesma cidade. É certo que foi uma entidade particular que "ofereceu" o concerto. Mas... quem o sugeriu? Onde se realizou? Quem manda no local? E se, com a mesma verba, se fosse apostando em quem por cá trabalha? Na realidade já sou profissional da música, sobretudo litúrgica, nesta cidade de Braga, há quatro décadas e sempre dirigi coros (e não só), mas nunca recebi mais do que um ramo de flores. Com que dinheiro se compram capas, fotocópias, fardas, instalações, deslocações.... sem falar no caso de alguns grupos que pagam aos maestros?
O Conservatório de Braga e a Irmandade de Santa Cruz também "ofereceram" dois concertos, os mais bracarenses de todos pela origem dos artistas envolvidos nos mesmos. A Freguesia de S. Vítor e o Hospital de S. Marcos trouxeram músicos de outras proveniências. Olhando para o futuro, qual o saldo positivo destes eventos culturais? A Comissão de Música sacra de Braga que papel teve nestas escolhas? Lembram-se que não era assim há duas décadas atrás? Para onde caminhamos? A doença da "empreiteirite", muito do agrado da Câmara de Braga, também chegou à esfera da piedade religiosa e, concretamente, da música?
Valha-nos, lá do céu, Manuel Faria, Benjamim Salgado, Joaquim dos Santos e Fernandes da Silva. Vinde livrar-nos destes novos empreiteiros da "música sacra". Vinde restabelecer a ordem no "convento".

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

DIA A DIA SOMOS MENOS....

É verdade. Vão partindo para o outro lado da Vida - em que nos foi dado acreditar- muitos dos nossos colegas e amigos. Daqueles que nos educaram e ensinaram poucos restam. Podem contar-se pelos dedos de uma mão. Dos amigos e condiscípulos já são muitos.
Desde há mais de quarenta anos que, cada um dos condiscípulos de seminário, seguiu o seu caminho. Consoante as suas tendências e capacidades assim se realizaram humanamente. Uns permaneceram mais perto dos caminhos por onde se realizaram como seminaristas: padres, professores, educadores, músicos... Outros andaram por estradas bem diferentes e talvez não sonhadas na adolescência, desde a agricultura às alturas de piloto da aviação civil e/ou militar. Um ou outro, demasiado cedo, foi chamado para a casa do Pai: o António Abreu, o Rocha Pereira... São os caminhos insondáveis do Criador em relação a cada uma das suas criaturas que conhece pelo próprio nome e ama sem medida.
Queiramos ou não, somos cada vez menos e, com fé e esperança, vamos aguardando em vigília a hora que nos pertence e que só Ele sabe. Já são muitas, porém, as graças que temos de dar. Impossível, mesmo, ser suficientemente agradecidos. E somos, também, cada vez menos em muitos projectos que encetamos, muitos deles como complemento das nossas actividades profissionais. Tão poucos que, querendo relembrar os que nos transformaram a mente e moldaram a nossa vontade, já não conseguimos número e tempo suficiente para concretizar tal recordação.
Manuel Faria, Manuel Borda, Manuel Alaio, Alberto Brás, Benjamim Salgado, Fernandes da Silva e Joaquim dos Santos. Falo e escrevo como músico. Tanta inspiração e transpiração destes homens tão ilustres no mundo dos sons para, em pouco mais de quarenta anos, quase cairem no esquecimento. De Manuel Borda, Manuel Alaio, Alberto Brás e Benjamim Salgado não resta uma edição e/ou gravação das suas obras. E, à medida que o tempo passa, tudo será mais difícil porque os nossos coros debatem-se - também eles!- com o problema de falta de vozes. Não tem havido incentivo, provocação, chamamento, motivação para esta causa: o canto coral. A feliz aposta de Manuel Faria - OS ENCONTROS DE COROS PAROQUIAIS- caiu por terra logo após a sua morte. E esses encontros não podem nem devem ser convocados por qualquer voluntário sujeitando-se a ser apelidado de "usurpador". Trata-se de um evento "patenteado" pelo responsável máximo da música diocesana a partir da década de setenta. Ora, para bom entendedor, seria da responsabilidade do seu "imediato" a continuação da obra enquanto não fosse considerada "obsoleta" e despropositada. Como ninguém consegue provar que era despropositada ou obsoleta conclui-se que houve desleixo, houve desprezo, houve falta de espírito eclesial, houve falta de cultura, houve falta de ..... senso comum para permitir a decadência e morte destes encontros. A Comissão organizadora da Semana Santa continua a gastar muitos milhares de euros para pagamento de "cachês" a artistas vindos de outras paragens. Os de cá são de qualidade inferior! E assim vão promovendo o que não é "bracarense". Estes vão sempre de graça. Já Manuel Faria se queixava que nem uma "esmola" era reservada para transporte dos orfeonistas para os encontros de coros na catedral ou outras igrejas da Cidade. Quer a Cãmara (Pelouro da Cultura) quer os responsáveis da Igreja continuam a apostar e a alimentar os valores - aceitamos, com justiça, que são valores- vindos de fora do que na promoção bairrista do que é nosso. Aliás, este é o "espírito" cultural dos nossos governantes. Já assim era no tempo de Domenico Scarllati ou de Domingos Bontempo.
Como dar a volta a esta maneira de pensar tão arcaica? Para quê tanto investimento material em edifícios com fins culturais e recreativos, em monumentos que estão sempre em obras e nunca acabados onde devia imperar o bom gosto, a genuinidade daquilo que é nosso e nos caracteriza como povo de uma província que diz defender as suas características culturais e religiosas?!