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Na primeira metade do séc. XX foram vários os músicos
compositores, já referidos, que
orientaram gerações de seminaristas, elaboraram muitas obras destinadas ao
culto Divino e tiveram enorme influência na aprendizagem de M. Faria. Nunca foi abandonado o canto Gregoriano. Foi,
porém, com Manuel Faria, nas décadas de 60 e 70, que ele atingiu o seu
esplendor nas cerimónias litúrgicas na Sé de Braga. Todos os seminaristas
tinham de adquirir o “Liber Usualis”, enorme volume em papel bíblico, que
continha as principais melodias gregorianas aprovadas pelo Concílio de Trento.
Por ele fazíamos, todas as semanas, os ensaios dos cânticos para a liturgia
dominical. Dos professores e seminaristas companheiros de Manuel Faria
recebemos um elevado número de composições que se divulgaram por toda a diocese
que, naquela altura, compreendia Braga e Viana do Castelo. Cito, de cor, algumas dessas obras:
Florilégio Mariano, Florilégio Eucarístico, Saltério Mariano, Saltério
Eucarístico, Rosa Mística, Cantar é rezar,
Jubilate, Cânticos da Juventude, Novos cânticos, Florinhas do campo,
Louvores à Virgem Maria, Louvores à Mãe de Deus, etc.. Estas colectâneas eram
usadas nos seminários e, como é natural, levadas para toda a diocese pelos
padres e seminaristas. Não havia, por conseguinte, falta de repertório, ora em
latim ora em vernáculo.
Com as reformas e novidades do Conc. Vaticano II surgiram
“compositores apressados e obras aligeiradas de todo o género” . Manuel Faria,
com uma visão profunda e longínqua do problema, encontrava-se mesmo no centro
deste “dilúvio pseudo-musical” tentando acalmar a tempestade de tanto “lixo”
sem sentido teológico ou estético. No seminário e a partir dele, poderia formar
e reformular a música aplicando o saber, a paixão pela dignidade no culto
Divino e o amor aos seus alunos que, mais tarde, seriam portadores da sua
mensagem musical.
Ofereceu-se, gratuitamente, para dar aulas de harmonia aos
alunos que nisso tivessem interesse. Foram muitos os aderentes que, mais
adiante, começaram a elaborar os seus cânticos que, depois de submetidos à
Comissão de Música Sacra, eram publicados na Nova Revista, iniciada em 1971.
Foi, também, desta altura a iniciativa de fomentar a criação
de grupos corais nas paróquias e os encontros anuais a nível diocesano dos
mesmos. Em grupos de 4 ou 5 apresentavam-se, cada ano, num arciprestado com 3
ou 4 obras dos novos compositores. M. Faria aparecia sempre nestes encontros
demonstrando carinho e um santo orgulho pelo que via e ouvia. Nos seus
comentários não havia “censura”. Mesmo que não corresse bem por alguma
desafinação, pelo natural medo ou hesitação, tinha sempre uma palavra de
estímulo para com os coralistas e directores. Foram muitos os padres e leigos
que se decidiram a um aperfeiçoamento dos conhecimentos musicais chegando,
alguns, a realizar cursos superiores na escola de Música Gulbenkian, em Braga,
que começava a dar os primeiros passos.
A Diocese deve muito a M. Faria sobretudo por três razões: o
seu apaixonado trabalho com os alunos,
semente de futuros compositores e directores; pelo incitamento à formação de
coros nas paróquias e fomento de encontros
provocando o gosto pela perfeição; e pela iniciação da Nova Revista de
Música Sacra, repositório, até hà uns anos atrás, de mais de um milhar de
cânticos adequados às várias circunstâncias da liturgia.
Com a morte de M. Faria, em 83, a árvore já estava grande não
havendo, de imediato, o perigo de se desmoronar. Deixou pessoas competentes e
apaixonadas que continuaram a sua obra quer a nível da composição quer a nível
dos coros paroquiais que, devido à formação de jovens leigos competentes,
continuaram o trabalho iniciado.
A NRMS continuou a sair regularmente orientada por um dos
seus discípulos, Az. Oliveira, tendo parado a sua publicação há poucos anos
atrás. Esta revista foi coligida, em 2005, com excepção dos últimos números, no
livro “ A Igreja Canta” que é de enorme utilidade. Não podemos, pois,
queixar-nos da falta de cânticos adequados às várias celebrações litúrgicas.
Creio, mesmo, que é complicado escolher.
A seguir falaremos deste problema e de outros que começam a
surgir.