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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

A MÚSICA SACRA NA DIOCESE DE BRAGA

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Na primeira metade do séc. XX foram vários os músicos compositores, já referidos,  que orientaram gerações de seminaristas, elaboraram muitas obras destinadas ao culto Divino e tiveram enorme influência na aprendizagem de M. Faria.  Nunca foi abandonado o canto Gregoriano. Foi, porém, com Manuel Faria, nas décadas de 60 e 70, que ele atingiu o seu esplendor nas cerimónias litúrgicas na Sé de Braga. Todos os seminaristas tinham de adquirir o “Liber Usualis”, enorme volume em papel bíblico, que continha as principais melodias gregorianas aprovadas pelo Concílio de Trento. Por ele fazíamos, todas as semanas, os ensaios dos cânticos para a liturgia dominical. Dos professores e seminaristas companheiros de Manuel Faria recebemos um elevado número de composições que se divulgaram por toda a diocese que, naquela altura, compreendia Braga e Viana do Castelo.  Cito, de cor, algumas dessas obras: Florilégio Mariano, Florilégio Eucarístico, Saltério Mariano, Saltério Eucarístico, Rosa Mística, Cantar é rezar,  Jubilate, Cânticos da Juventude, Novos cânticos, Florinhas do campo, Louvores à Virgem Maria, Louvores à Mãe de Deus, etc.. Estas colectâneas eram usadas nos seminários e, como é natural, levadas para toda a diocese pelos padres e seminaristas. Não havia, por conseguinte, falta de repertório, ora em latim ora em vernáculo.
Com as reformas e novidades do Conc. Vaticano II surgiram “compositores apressados e obras aligeiradas de todo o género” . Manuel Faria, com uma visão profunda e longínqua do problema, encontrava-se mesmo no centro deste “dilúvio pseudo-musical” tentando acalmar a tempestade de tanto “lixo” sem sentido teológico ou estético. No seminário e a partir dele, poderia formar e reformular a música aplicando o saber, a paixão pela dignidade no culto Divino e o amor aos seus alunos que, mais tarde, seriam portadores da sua mensagem musical.
Ofereceu-se, gratuitamente, para dar aulas de harmonia aos alunos que nisso tivessem interesse. Foram muitos os aderentes que, mais adiante, começaram a elaborar os seus cânticos que, depois de submetidos à Comissão de Música Sacra, eram publicados na Nova Revista, iniciada em 1971.
Foi, também, desta altura a iniciativa de fomentar a criação de grupos corais nas paróquias e os encontros anuais a nível diocesano dos mesmos. Em grupos de 4 ou 5 apresentavam-se, cada ano, num arciprestado com 3 ou 4 obras dos novos compositores. M. Faria aparecia sempre nestes encontros demonstrando carinho e um santo orgulho pelo que via e ouvia. Nos seus comentários não havia “censura”. Mesmo que não corresse bem por alguma desafinação, pelo natural medo ou hesitação, tinha sempre uma palavra de estímulo para com os coralistas e directores. Foram muitos os padres e leigos que se decidiram a um aperfeiçoamento dos conhecimentos musicais chegando, alguns, a realizar cursos superiores na escola de Música Gulbenkian, em Braga, que começava a dar os primeiros passos.
A Diocese deve muito a M. Faria sobretudo por três razões: o seu apaixonado trabalho com os  alunos, semente de futuros compositores e directores; pelo incitamento à formação de coros nas paróquias e fomento de encontros  provocando o gosto pela perfeição; e pela iniciação da Nova Revista de Música Sacra, repositório, até hà uns anos atrás, de mais de um milhar de cânticos adequados às várias circunstâncias da liturgia.
Com a morte de M. Faria, em 83, a árvore já estava grande não havendo, de imediato, o perigo de se desmoronar. Deixou pessoas competentes e apaixonadas que continuaram a sua obra quer a nível da composição quer a nível dos coros paroquiais que, devido à formação de jovens leigos competentes, continuaram o trabalho iniciado.
A NRMS continuou a sair regularmente orientada por um dos seus discípulos, Az. Oliveira, tendo parado a sua publicação há poucos anos atrás. Esta revista foi coligida, em 2005, com excepção dos últimos números, no livro “ A Igreja Canta” que é de enorme utilidade. Não podemos, pois, queixar-nos da falta de cânticos adequados às várias celebrações litúrgicas. Creio, mesmo, que é complicado escolher.
A seguir falaremos deste problema e de outros que começam a surgir.


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