Páginas

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

A Música Litúrgica na Diocese de Braga na primeira metade do séc. XX

-->
O resumo que pretendo fazer será baseado, somente, na minha experiência pessoal, fruto da vivência à ”sombra” da Igreja desde a década de 40 do séc. passado.
Nesta primeira parte quero abordar a música religiosa antes de Manuel  Faria já no apogeu da sua produção musical e como precursor de um “novo tempo”. Numa segunda parte falarei de Manuel Faria, dos seus discípulos e dos abundantes frutos que nos legou. Se tiver espaço e me for permitido, direi o que penso sobre o estado actual da música na liturgia e o que penso que deve ser feito.
Desde criança que me lembro de, na minha terra natal, se cantar muito e bem. Mais nos ofícios divinos do que no quotidiano campestre (falando de música profana). Cantava o coro das senhoras (meninas) e toda a assembleia as seguia. Até os homens, que ficavam na parte superior da igreja, como era regra, se associavam ao canto.
Com o tempo verifiquei que havia uma razão muito importante para tal acontecer e que hoje, infelizmente, está em desuso. Os seminários diocesanos preparavam muito bem os futuros padres nomeadamente na arte do canto. Lembro-me, no concelho de Famalicão, de vários párocos que não só tocavam e cantavam muito bem como tinham brio em organizar os seus coros que, nessa altura, eram só femininos. Na minha zona havia pelo menos dez párocos que assim procediam.
Como a língua usada na liturgia era a latina e o sacerdote celebrava de costas voltadas para o povo, este nada respondia. Somente o ajudante ou sacristão é que decorava as fórmulas e ia “mastigando” as respostas. O que fazia, então, o  povo? Quase sempre rezava o terço durante a missa. Mas também cantava em determinados momentos: entrada, ofertório, comunhão e final. Este costume era igual na generalidade das paróquias. Não era assim nas catedrais ou em institutos religiosos. Estes tinham mais formação e eram capazes de cantar mais coisas em latim, sobretudo o ofício das horas.
Tenho, então, de falar dos mestres do início do século passado que não só prepararam os seminaristas como, quase sempre, eram chamados para ensaiar os grupos corais das paróquias para determinadas festividades.
Já nasceram no último quartel do séc. XIX os compositores  P. António Correia, P. Manuel Alaio e P. Alberto Brás que foram mestres de P. Benjamim Salgado, P. Rodrigues Azevedo , P. Manuel Borda e P. Manuel Faria. Todos foram professores e compositores de música sacra.
O s três primeiros prepararam o caminho para os seguintes. Estes, mas sobretudo Manuel Faria, teria o papel mais importante na formação de um elevado número  de padres e leigos apaixonados pela música. Se, para tal, houver oportunidade, poderei nomear umas dezenas de profissionais, alguns ainda no activo, que são fruto da pedagogia e magistério de Manuel Faria.
Lembro-me de, nas principais festividades do Seminário, em especial na abertura do ano lectivo, ouvir um elevado número de párocos que se juntavam ao coro dos seminaristas a cantar a Proposição de Os Lusíadas de Hermínio do Nascimento numa espécie de “girândola” para terminar estas sessões académicas.
acostagomes@gmail.com

Sem comentários: