O resumo que pretendo fazer será
baseado, somente, na minha experiência pessoal, fruto da vivência à ”sombra” da
Igreja desde a década de 40 do séc. passado.
Nesta primeira parte quero abordar a música religiosa antes
de Manuel Faria já no apogeu da sua
produção musical e como precursor de um “novo tempo”. Numa segunda parte
falarei de Manuel Faria, dos seus discípulos e dos abundantes frutos que nos
legou. Se tiver espaço e me for permitido, direi o que penso sobre o estado
actual da música na liturgia e o que penso que deve ser feito.
Desde criança que me lembro de, na minha terra natal, se
cantar muito e bem. Mais nos ofícios divinos do que no quotidiano campestre
(falando de música profana). Cantava o coro das senhoras (meninas) e toda a
assembleia as seguia. Até os homens, que ficavam na parte superior da igreja,
como era regra, se associavam ao canto.
Com o tempo verifiquei que havia uma razão muito importante
para tal acontecer e que hoje, infelizmente, está em desuso. Os seminários
diocesanos preparavam muito bem os futuros padres nomeadamente na arte do
canto. Lembro-me, no concelho de Famalicão, de vários párocos que não só
tocavam e cantavam muito bem como tinham brio em organizar os seus coros que,
nessa altura, eram só femininos. Na minha zona havia pelo menos dez párocos que
assim procediam.
Como a língua usada na liturgia era a latina e o sacerdote
celebrava de costas voltadas para o povo, este nada respondia. Somente o
ajudante ou sacristão é que decorava as fórmulas e ia “mastigando” as
respostas. O que fazia, então, o povo?
Quase sempre rezava o terço durante a missa. Mas também cantava em determinados
momentos: entrada, ofertório, comunhão e final. Este costume era igual na
generalidade das paróquias. Não era assim nas catedrais ou em institutos
religiosos. Estes tinham mais formação e eram capazes de cantar mais coisas em
latim, sobretudo o ofício das horas.
Tenho, então, de falar dos mestres do início do século passado
que não só prepararam os seminaristas como, quase sempre, eram chamados para
ensaiar os grupos corais das paróquias para determinadas festividades.
Já nasceram no último quartel do séc. XIX os
compositores P. António Correia, P.
Manuel Alaio e P. Alberto Brás que foram mestres de P. Benjamim Salgado, P.
Rodrigues Azevedo , P. Manuel Borda e P. Manuel Faria. Todos foram professores
e compositores de música sacra.
O s três primeiros prepararam o caminho para os seguintes.
Estes, mas sobretudo Manuel Faria, teria o papel mais importante na formação de
um elevado número de padres e leigos
apaixonados pela música. Se, para tal, houver oportunidade, poderei nomear umas
dezenas de profissionais, alguns ainda no activo, que são fruto da pedagogia e
magistério de Manuel Faria.
Lembro-me de, nas principais festividades do Seminário, em
especial na abertura do ano lectivo, ouvir um elevado número de párocos que se
juntavam ao coro dos seminaristas a cantar a Proposição de Os Lusíadas de
Hermínio do Nascimento numa espécie de “girândola” para terminar estas sessões
académicas.
acostagomes@gmail.com
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