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quinta-feira, 14 de julho de 2011

ENCONTRO DE COROS LITÚRGICOS EM FAFE

Realizaram-se na Igreja Matriz de Fafe, nos dias oito e nove deste mês, dois encontros de coros, num total de treze, integrados nas festividades em honra de Nossa Senhora de Antime. Tive o grato prazer de ser conviado e de estar presente no encontro do dia oito.
O programa que foi distribuido, dizia, na saudação: “foi hà 32 anos que o nosso saudoso Pároco Cónego Leite de Araújo, promoveu o primeiro encontro dos grupos corais litúrgicos do nosso Arciprestado, que não mais deixou de realizar-se anualmente”. Quem conheceu o Sr. Cón. Araújo sabe como era dedicado ao seu povo nomeadamente na preparação do canto litúrgico não sendo desconhecido o seu respeito e sensibilidade para com o Mestre de então, o Sr. Cón. Manuel Faria grande impulsionador destes encontros. Admirável, para mim, foi e é a persistência na realização dos mesmos, trinta e dois anos após terem começado. A semente caiu em boa terra e continua a produzir muitos frutos. Estão de parabéns, pois, os continuadores do Sr. Cón. Leite Araújo. Acreditaram que valia a pena apostar na qualidade do canto na liturgia. E eu fui testemunha no que vi e ouvi no dia oito.
Apresentaram-se sete coros com três obras cada um, sendo umas mais complexas e rebuscadas e outras mais simples. Umas, a maior parte, verdadeiramente litúrgicas porque saidas da criatividade de conceituados liturgistas e compositores e outras nem tanto atendendo a que lhes faltava o selo da competente autoridade eclesiástica. E como se portou bem aquele grupinho de crianças acompanhadas, suavemente, por alguns músicos de “palmo e meio” nomeadamente por uma guitarra tão bem dedilhada! Quem insiste em dizer que as crianças não são capazes de realizar obras difíceis? Todos, porém, (e julgo que não me engano) tinham por finalidade o serviço da liturgia que não é, senão, o esforço de elevar, através do canto, o homem até Deus. Não pode haver outra finalidade do canto dentro da igreja, nos actos litúrgicos. Se houver, está errado.
A qualidade dos textos, a qualidade das composições humildemente sujeitas ao “nihil obstat” ou “imprimatur” da legítima autoridade, a preparação vocal sempre procurada pelos directores artísticos, a harmonia das vozes e a “presença” da alma na interpretação das obras , sem “exibicionismos” balofos, tornam mais viva, presente e activa a compreensão de quanto se passa ao redor do altar. Quando tudo é pensado e realizado com dignidade e com perícia, desde as leituras à géstica dos acólitos, desde o canto à homilia bem preparada do Presidente, vale a pena participar numa Eucaristia dominical. Dizem muitos fiéis que a “alma fica cheia”. E haveria menos cristãos a abandonar o lugar sagrado onde “nasceram” e por onde hão-de passar no último dia.
Foi esta a lição que colhi em Fafe no primeiro dia deste encontro de coros. Precisamos da ajuda de todos para reanimar em toda a diocese este bom hábito de nos ouvirmos mutuamente a fim de que surjam mais mestres e mais cantores que contribuam para que as assembleias litúrgicas rezem e cantem melhor. Assim Deus o permita.
(D.M., 20/07/2011)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

FORMAÇÃO DE SALMISTAS


Decorreu, nos dias 15 e 16 de Fevereiro, no salão Paroquial de Dume, uma acção de formação para os salmistas das paróquias da zona do Cávado. Embora tenham aparecido bastantes não estavam todas as paróquias representadas, o que é pena.
O Pároco de Palmeira teve a seu cuidado a orientação dos salmistas sobretudo numa perspectiva litúrgica deixando os aspectos técnicos para a crítica/apreciação dos presentes na acção de formação. Para além de vários aspectos estritamente litúrgicos, aplicáveis a leitores, acólitos, salmistas, organistas e outros "actores" na liturgia, socorreu-se de apontamentos práticos cedidos pelo P. Cartageno, compositor e maestro de nome bem conhecido na musicologia Portuguesa.
Desde o "saber estar" no ambão, à expressão sonora sem afectação nem exibicionismos, até à dicção e "entendimento" do carácter de cada salmo, os participantes tiveram a oportunidade de ver e ouvir variadas interpretações de salmos das diferentes épocas do Ano Litúrgico. Assim ficamos com alguma luz sobre o modo de interpretar um salmo penitencial, um salmo de louvor, de súplica ou de aclamação. Para cada um há modos diferentes de serem proclamados a fim de que, através da expressão, se possa transmitir à assembleia aquilo que o salmista quis transmitir ao povo Deus. Ontem como hoje.
Ainda há um longo caminho para percorrer a caminha da "perfeição". Esta jamais será conseguida; mas tem de ser "perseguida". O que foi dito para os salmistas já havia sido abordado com os leitores ou seja, a expressividade, a clareza na pronúncia, a pontuação e a cadência frásica. Leitores e salmistas têm de ter em atenção de que, nesse momento, são instrumentos da voz de Deus. Deus fala através de nós. Nós somos a Sua boca. Temos, por isso, uma enorme responsabilidade em desempenhar bem as funções que aceitarmos realizar no serviço litúrgico.
Na próxima semana a acção de formação incidirá nas competências dos organistas.

150 ANOS DE HARMÓNIO


No dia 23 de Setembro realizou-se um concerto/tertúlia na Capela de Guadalupe, em Braga. Foram "actores" deste evento o Coral de Dume e o Dr. José Carlos Miranda. O Coral executou a obra de M. Faria intitulada "Florinhas do Campo" publicada no ano de 1948. Consta de 13 cânticos a Nossa Senhora, a duas vozes, que durante décadas foram executados em muitas igrejas da diocese. Pela sua simplicidade melódica, embora de apreciável extensão vocal, são melodias cheias de "alma" enriquecidas por um acompanhamento, feito a pensar no harmónio, que, exigindo razoável técnica ao organista, faz um conjunto perfeito com as vozes. José Carlos Miranda, barítono, contribuiu com um ciclo de cânticos, também de M. Faria, sobre o ofício de defuntos. Como o motivo principal do encontro era o harmónio, realizei um trabalho sobre a história e importância do mesmo, durante cerca de 150 anos, como instrumento principal da maioria das igrejas e capelas.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Canto na Liturgia



A Rádio Renascença, tal como outros meios de comunicação social, transmitem a Eucaristia dominical, regularmente, a partir de diferentes comunidades cristãs. Acho que é um bom serviço que prestam ao público assim como é uma boa oportunidade para as comunidades mostrarem como louvam o Criador através do maior ou menor cuidado que colocam na preparação da Liturgia.

Acontece que, num dos últimos domingos, ouvi e apreciei o modo como um coral de Lisboa não preparou minimamente os cânticos que executaram durante a Missa. Sem dar relevo à educação vocal quero referir, somente, a ileteracia na interpretação da simbologia escrita nas pautas. A maior parte dos cânticos foram executados com erros de palmatória “reescrevendo” o que os compositores, com tanto cuidado, já haviam escrito. Entendo que esse género de erros, produzidos de modo reiterado, são indesculpáveis pois: havia um organista, creio que um director artístico e um sacerdote (que não devia ser um estranho). Como foi possível, então, cantar tantas asneiras seguidas?

Isto só é possível devido ao laxismo , à impreparação, à falta de espírito crítico e ao pouco rigor dos intervenientes na acção litúrgica, desde o padre ao acólito. Muitas vezes as celebrações não são preparadas e não são dignificadas. É pena que tenha caido no esquecimento aquele velho costume de “guardar o melhor fato para o domingo” ou, dito de outra maneira, vestir o “fato de louvar a Deus”. Pelo que tenho visto e ouvido também a diocese de Braga, em muitas comunidades, vem perdendo os bons costumes pelas mesmas razões: o desleixo ou impreparação dos párocos, a cultura do facilitismo, a impreparação musical e litúrgica dos responsáveis pelos coros e a carência de bons exemplos a partir das igrejas de referência, como são os grandes centros de peregrinação, de onde deveriam irradiar as boas práticas.

Há muito investimento material em instrumentos de qualidade mas não há investimento em tocadores com preparação técnica. E, acreditem, não faltam jovens com habilitações superiores que gostariam de ser convidados a exercer essas funções. Bastava dar-lhes a preparação litúrgica , algum incentivo monetário e, claro está, ir ao encontro deles.

No que se refere ao canto e à preparação dos grupos corais ainda vivemos daquilo que Manuel Faria semeou e viu crescer: os encontros de coros. Foram sadia convivência, frutuosa aprendizagem, confronto de experiências e aturada persitência na formação de directores artísticos rumo a uma perfeição sonhada pelo Mestre: a nobreza do canto no louvor Eucarístico. A semente lançada à terra e já árvore frondosa, por todos avistada e admirada, deixou de ser tratada e definhou. Pouco resta. Voltamos aos tempos da viola mal tocada e do barulhento batuque que ofusca as palavras cantadas. Floresce o amadorismo mais simplório que nem sequer parece incomodar a sensibilidade de muitos párocos, responsáveis máximos pela vitalidade de uma paróquia.

Entendo que temos de arrepiar caminho. Como leigo, porém, não estou investido com qualquer autoridade que me permita passar além de uma crítica construtiva a partir da autoridade moral conquistada pela formação , dedicação e trabalho realizado.

Também neste campo, auguro um bom ano para a diocese de Braga.

Costa Gomes