Já
em tempos alguém, com responsabilidades na Música Sacra da Diocese de Braga,
dizia que, tal como o Ministro extraordinário da Comunhão (MEC) tinha de
apresentar uma credencial para poder colaborar na distribuição da Sagrada
Comunhão em qualquer lugar, também o organista deveria ter um cartão que o
identificasse como competente para exercer tal actividade. Na altura manifestei
o meu completo acordo.
Recordando
este episódio e após a constatação, durante
tantos anos, do estado lastimável da música na Liturgia, a começar pela falta
de empenho (ou ignorância?) de muitos pastores modernos (?) creio que este
assunto é deveras importante.
Vejamos
o que é exigido a um MEC para ser considerado competente para exercer a
actividade.
1.Exige-se
que tenha consciência de que a Eucaristia é o centro de toda a vida Cristã e,
por isso, deve agir com o devido cuidado
pastoral mostrando a sua devoção para com tão sublime mistério. Pergunto: e o organista não deve ter o mesmo
sentimento cristão e o mesmo empenho pastoral?
2.Devem
ser cristãos, membros da comunidade eclesial que participam nas celebrações
litúrgicas da Comunidade cristã. Pergunto: o organista não deve, também,
participar e ser assíduo à vida litúrgica da Comunidade cristã? Ou vai só dar o
ensaio e tocar na Missa como se fosse um assalariado?
3.O
MEC é empossado pelo Bispo ou por alguém por ele indicado. Pergunto: quem dá
posse ao organista e lhe reconhece competência para exercer um cargo tão
importante como é o de levar o povo a cantar os louvores de Deus segundo as normas aprovadas pela Igreja?
4.O
MEC só está autorizado a distribuir a Sagrada Comunhão no Local para que foi
nomeado podendo, caso seja solicitado, ajudar em outros locais ou comunidades.
Pergunto: que atitude devem ter os párocos e, sobretudo, reitores de
capelanias, quando lhe aparece um organista com o respectivo grupo que não só
não é conhecido nem é portador de qualquer credencial que o certifique como
competente?
5.Ao
MEC , como candidato ao exercício, são exigidos vários documentos e- o mais
importante- um documento que ateste a sua actividade eclesial. Pergunto: e ao organista não se
exige nada? Pode-se executar qualquer coisa e de qualquer maneira nos actos
litúrgicos? Pode ser um “cristão” indiferente?
6.Ao
MEC é exigida “sólida piedade Eucarística, comunhão frequente e nível cultural
adequado à comunidade que vai servir”. E ao organista não se exige nada? Não
precisa de nenhuma formação musical? Não precisa de conhecer as normas saídas
do Concílio Vaticano II? Não precisa de “sentir” e comungar com a Igreja de
Jesus Cristo?
7.Os
mandatos do MEC são por três anos tendo, entretanto, de fazer uma pequena
formação. Pergunto: quem dá formação e informação aos organistas? Bastará dizer que estão sob a “alçada” do
pároco? Mas não será óbvio que muitos nem sequer são capazes de avaliar a
qualidade dos textos que são executados tolerando inúmeras tropelias nos actos
litúrgicos? Acham que se pode pegar em qualquer “cantiga”, mais ou menos piedosa,
que se retira da internete e executá-la em actos litúrgicos? Onde está o
respeito pelas normas vigentes?
8.Por
último, recomenda-se aos MEC que “devem cuidar da sua vida espiritual e
empenhar-se na sua formação cristã, participando em exercícios espirituais e em
actividades teológicas”. Mas este esforço de permanente formação musical,
religiosa e litúrgica não se deve recomendar aos organistas?
Ao
falar em organistas entendo, aqui, que também ele é o responsável pela escolha
dos cânticos, pelos ensaios e boa execução dos mesmos. Tenho verificado que há
uma enorme leviandade nas nossas comunidades chegando ao cúmulo ridículo de
mostrar a incompetência através dos meios de comunicação social: rádio e
televisão. Qualquer músico não praticante fica horrorizado com o que se canta e
o modo como o fazem nas transmissões das liturgias dominicais. Mas ninguém tem
a coragem de colocar o dedo na ferida. Parece que estamos numa sociedade
eclesial anémica no que diz respeito à música sacra.
Esta
reflexão é, somente, uma homenagem ao bom Mestre Manuel Faria no centenário do
seu nascimento. É com a competência que todos lhe reconhecem que um discípulo
aqui deixa esta reflexão.
acostagomes@gmail.com