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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ORIENTAÇÕES SOBRE A MÚSICA SACRA (um pouco de história)


* Já no A.T. “todo o Israel dançava diante de Deus com instrumentos de madeira trabalhada: cítaras, liras, tímpanos, sistros e címbalos”.
As primeiras recomendações:
David fixou as regras da música no culto sagrado.
* As primitivas comunidades, mesmo antes de surgir o dia, cantavam um hino a Cristo.
* Tertuliano diz que, nas assembleias dos cristãos “se lêem as Escrituras, cantam salmos e promove-se a catequese”
* Após a liberdade concedida à Igreja surgiram novos hinos, novos cânticos consoante a cultura dos povos que se convertiam ao cristianismo.
Início da Polifonia:
Após o séc. IX/X, com o surgimento de novos hinos e novas formas de cantar, a música litúrgica haveria de atingr o seu esplendor nos séc. XV/XVI com o apogeu da polifonia e dos conjuntos vocais acompanhados com o órgão de tubos.
* Como em todos os tempos, os abusos foram surgindo e houve necessidade da intervenção da autoridade eclesiástica no sentido de expurgar da música sacra tudo o que não contribuia para a sua verdadeira finalidade.
Conclusão (por ocasião do Concílio de Trento): * A liberdade do artista (compositor ou director) deve sujeitar-se à finalidade última da sua criação: o culto divino.
* Assim, qualquer arte religiosa, exige artistas inspirados pela fé e pelo amor.
* A finalidade principal é a de elevar piedosamente a sua mente para Deus.
Características da Música Sacra: * A Música, enquanto parte integrante da própria liturgia, é uma das mais belas e elevadas formas de manifestação da nossa alegria Pascal.
* Exprime, não só, louvor, acção de graças, exultação e júbilo mas também súplica, lamento, tragédia, arrependimento e profissão de fé.
(Ver o sentido dos textos)

Arte de “bem celebrar” (mesmo para os sacerdotes):
Todos estes sentimentos ocorrem durante o acto litúrgico. A arte de os bem celebrar deve ser a grande preocupação, não só dos pastores mas também de todos os seus colaboradores. Desde o início do Cristianismo não só foram seguidos os modelos de canto das sinagogas como incorporadas outras formas de cantar dos povos que se foram convertendo.
O Concílio de Trento confirmou:O repertório criado ao longo de vários séculos, partindo do canto monofónico (gregoriano), que conduziu à grande polifonia sacra da renascença, é vigorosamente defendido no Concílio de Trento;
* Nos nossos dias, continua a ser recomendado como modelo de inspiração para novas textos e novas melodias (Conc. Vaticano II).

Exigências para o nosso tempo:
É nosso dever manter vivo o tesouro musical herdado e enriquecê-lo com novas obras. Mas esta tarefa tem o profundo alcance de tocar a intimidade das pessoas que se dirigem a Deus. Daí a exigência de qualidade artística, a mesma do passado, porque só a qualidade atinge o íntimo da pessoa. Isto implica que se evitem os extremos da mera repetição do que já existe ou da experimentação do que é fácil, banal e sem critério. A Igreja sempre procurou celebrar o Mistério Pascal com os elementos artísticos e culturais mais nobres de cada época da História considerando a ARTE como um meio privilegiado de contactar com as realidades divinas.

Adequada preparação : :Preparação técnica e litúrgico-pastoral para uma correcta escolha de textos e melodias.
Qualidade artística: a música litúrgica tem como exigência fundamental a santidade e a beleza para que possam alimentar a oração e exprimir o Mistério de Cristo.

“CANTORAL LITÚRGICO NACIONAL”- Galiza: O Secretariado Nacional de Liturgia de Espanha publicou a segunda edição do Cantoral Litúrgico Nacional. Na sua apresentação, Dom Ramiro Gozalez, de Orense, entre outras reflexões, fez as seguintes:
1- A qualidade destes cânticos deve ser julgada pelos “competentes”. Excluem-se os critérios de gosto, facilidade e popularidade.
2- Só pode fazer um julgamento quem conhecer as normas da celebração litúrgica, da música e do canto litúrgico e tenha o sentido do ministério (saiba o que está a fazer).
3- A Sagrada Escritura e a Liturgia são as principais fontes do canto para as celebrações.
4- Compositores, instrumentistas e directores artísticos devem conhecer os critérios objectivos e claros que regem a música e o canto na Liturgia.
5- Concretamente na Galiza, há um repertório de coisas boas e menos boas. É preciso insistir na qualidade e inspiração religiosa.
(Estas são as recomendações do responsável pela Liturgia em Orense)

Soluções fáceis?: As soluções fáceis estão em contradição com as exigências do Evangelho de Jesus Cristo. As soluções fáceis e o exteriormente agradável são propostas da sociedade de consumo em que vivemos. Os caminhos de Deus não se anunciam ou promovem com facilitismos que despertam simplesmente as emoções passageiras ao sabor das modas, superficiais e sem qualquer qualidade artística.
Jesus não nos disse “que a porta é estreita”?

GÉNEROS DE MÚSICA: Litúrgica e não litúrgica : Só os especialistas, seriamente preparados, quer em música quer em liturgia, é que serão capazes de fazer esta destrinça.
Tantos livros publicados e vendidos em livrarias da diocese!.... Com melodias interessantes mas que em nada sublimam os textos..... Com textos interessantes mas com pouco gosto literário e, até, erros teológico-pastorais!.....

Abusos....:
Sobretudo, após a segunda metade do séc. XX, determinados géneros de música conotados com ambientes de diversão, foram introduzidos nas celebrações. Isto só foi possível devido à falta de formação litúrgica e musical, agravada pela falta de formação religiosa e humana.

“Imprimatur” ou “nihil obstat”:
Exige-se, da parte dos compositores e directores artísticos, a suficiente humildade para se auto-examinar se são ou não especialistas preparados em música e liturgia. São indispensáveis a um compositor e director de música litúrgica a preparação técnica musical, a preparação em liturgia e nos ritos que a acompanham, a formação religiosa e a piedade cristã e, não menos importante, a humildade suficiente para sujeitar as suas composições a uma comissão dependente do Bispo a fim de serem ou não aprovadas para os actos oficiais da liturgia Divina.

Comissão de Música Sacra: As obras de cariz religioso, incluindo as musicais, devem ser revistas por uma comissão nomeada pelo Bispo a fim de se pronunciar sobre a sua “elevação” espiritual e, assim, “obter” o chamado “imprimatur” (imprima-se) ou “nihil obstat” (nada obsta a que se imprima e seja divulgada).

Democracia ou Teocracia? A Igreja nem é democracia nem Teocracia.
Não é democracia porque há normas tão fundamentais e naturais que nem o voto de muitas nações as poderiam alterar. Tudo o que seja “anti-natura” não pode ser alterado pelo homem com as suas leis.
Teocracia? O povo Hebreu chegou a governar-se por uma teocracia: só a Lei de Deus é que contava. Mas vieram os exageros na interpretação da vontade de Deus!...

Deus (Jesus Cristo) deu-nos algumas normas de conduta; mas deixou ampla liberdade ao ser humano para as concretizar. O fundamental é: amar a Deus e amar ao próximo. Nada mais. Mas, então, ninguém manda na Igreja?

Função dos Bispos: Mas a liberdade tem limites: os limites da decência (a nobreza no louvor Divino) e “o outro” (na relação humana).
Então, o Bispo como sucessor dos Apóstolos, deve cumprir a ordem: “tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado será desligado nos céus".
Ele é, por isso, numa lógica de fé, a autoridade legítima constituida por Jesus Cristo.

CELEBRAÇÕES COM JOVENS : Há uma tendência generalizada de, nas chamadas “eucaristias para ou com jovens” , se executarem cânticos (ou canções) muito próprias da sua jovialidade mas com pouco sentido litúrgico. Por vezes não têm nada a ver com os textos proclamados.
Acontece, ainda, que não sendo toda a assembleia constituida por jovens, estes como que “impõem” um determinado estilo que nada diz aos mais velhos, ou seja, não permitem a participação da assembleia.

Prudência...: É necessário caminhar para o meio termo e recordar os princípios básicos: competência musical e competência litúrgica. Ao pastor ou alguém da sua confiança compete supervisionar, elucidar, formar e informar.

Os Pastores (sacerdotes) têm tanta obrigação de o fazer como um professor tem obrigação de cumprir o programa da sua área disciplinar.
E com crianças? É um hábito muito mau – e isto acontece mais quando os cânticos são para as crianças – fazer adaptações de textos para melodias de outras proveniências, muitas vezes completamente profanas ou lúdicas.
Por onde se dividirá o pensamento das crianças: pelo texto, supostamente de cariz religioso ou pela melodia de carácter lúdico e profano?

O fato domingueiro: Muitos ainda se lembram de guardar um fato “melhor” para vestir ao domingo quando ia à Missa. Ao chegar a casa guardava-se até ao domingo seguinte. Porquê?
A melhor roupa era para o “dia do Senhor”. E nos cânticos, leituras, etc: serve qualquer “coisinha”? Por ignorância? Por desleixo? É preciso mudar a mentalidade. Será caso para dizer: é necessário contrariar a ideia (moderna?) de "ser progressista". Talvez seja melhor ser "tradicionalista". É que os nossos antepassados deixaram-nos uma riqueza extraordinária. Não é verdade que hoje, -e ainda bem que é assim- se dá tanto valor aos achados arqueológicos?!

RESUMINDO:A música sacra deve:
*Trazer decoro e ornamento às vozes do sacerdote e do povo cristão que louva o Deus Altíssimo;
*Elevar os corações dos fiéis a Deus tornando vivas e fervorosas as orações litúrgicas e, assim, louvá-lO e invocá-lO com mais intimidade e eficácia;
* Devem, portanto, os cânticos serem executados com voz límpida e adequada expressão que só pode nascer da alma.

Santo Agostinho diz que as nossas almas se elevam na piedade e na devoção de uma forma mais perfeita quanto as santas palavras são cantadas e os nossos sentimentos encontram no canto uma relação íntima que nos aproxima de Deus.

ESCOLHA DOS CÂNTICOS adequados a cada celebração (Dominical):
* O ideal é fazer uma análise das leituras e, a partir daí e dentro do repertório que for conhecido em cada coral, fazer uma selecção de cânticos adequados.
* Fontes de recurso (na internete): Meloteca e Santuário de Fátima

COMO ENSAIAR UM GRUPO CORAL? (Algumas dicas) : Se a obra é a uma só voz deverá proceder-se da seguinte forma:
1- Entoar toda a obra (para ficar com uma ideia do todo);
2- Ensaiar uma frase de cada vez. Ouvem bem o ensaiador e, depois, repetem várais vezes.
3- Vai juntando mais frases e o coral vai repetindo.
4- Tenta a execução de toda a obra e corrige os possíveis erros.
5- Aplicar a dinâmica, colocar bem as vozes (perceptibilidade), controlar o volume (sem vozes salientes), homogeneidade.
Nada de exibicionismos. Quem os pratica fica mal visto, é criticado e não presta um serviço a Deus e à comunidade.

Se a obra é a várias vozes: O processo será o mesmo. Todavia, para não saturar o ensaiador (a menos que haja vários), este deverá fazer a gravação de cada voz em cassete como se se tratasse de uma só voz. Cada naipe, com o seu gravador e cassete, vai para uma sala e vão tentando decorar a obra. Passados poucos minutos esta está pronta a ser executada em conjunto.

Como dirigir com alguma correcção?
Não exagerar na marcação da pulsação;
Marcar, de preferência, o compasso;
Fazer uma géstica simples mas muito precisa para boa segurança do coral;
Fazer a selecção dos solistas pelas suas qualidades musicais e não por simpatias.

CANTEM MAIS COM A ALMA DO QUE COM A GARGANTA:
Sintam o que cantam;
Dêem sentido (alma) ao texto;
Não se limitem a serem máquinas de escrever ou grafonolas ;
Louvem a Deus, mesmo nos ensaios: estando atentos, dando expressão sem pieguices nem gritos de arraial.
Deus ouve-nos mesmo quando estamos calados.

OS INSTRUMENTOS na Liturgia:
* O instrumento, por excelência, é o órgão de tubos.
* O harmónio tradicional
* O órgão electrónico desde que se aproxime, em termos sonoros, do órgão de tubos. Há péssimas imitações.
* Os restantes instrumentos, sobretudo os de orquestra, desde que executados com perícia e sobriedade.