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segunda-feira, 13 de abril de 2009

CONCERTOS DA QUARESMA DE 2009


Passou mais uma Semana Santa, a de 2009 e, como vem sendo hábito, realizaram-se vários concertos ora na Sé ora noutros locais. Ouvimos "prata da casa" e "prata" de outros cofres. São normas Diocesanas, no que se refere às festas religiosas, expurgá-las de tudo quanto seja menos "cristão", menos condizente com o religioso, razão e fim de determinada festa. Mesmo, neste campo, as comissões de festas "devem prestar contas ao Conselho Económico".
Um concerto, para além do seu carácter cultural e lúdico, deve ser um investimento e, como tal, deixar alguma mais valia para o público a que é dirigido. Ora, nesta Augusta Cidade, cada vez menos se conjugam estes factores.
Começando por Giampaolo Di Rosa, exímio organista, nada tem a ver com a nossa Sé Catedral a não ser o facto de realizar vários concertos, de belíssima qualidade, em troco de um justo pagamento. Mas, daqui até ser nomeado "organista titular da Sé de Braga" vai uma distância astral. Silbertan Blanc, ORGANISTA TITULAR DA SÉ DE LISBOA, está lá para todo o serviço manipulando com maestria o órgão que confere às cerimónias litúrgicas uma dignidade a léguas de distância do que se passa na Sé de Braga. É que, o organista titular, não é "titular" só para dar concertos mas, sobretudo, para as cerimónias litúrgicas que, se dão algum dinheiro, deve ser muito pouco. Em termos de música sacra, em Braga, temos como lema, desde há duas décadas, que "para Nosso Senhor qualquer coisinha está bem". Tenho de dizer, com conhecimento de causa: "perdoai-lhes, Senhor, porque não sabem o que fazem", pois não percebem nada de música.
O mesmo aconteceu no último concerto, Oratória "Paulus", de grande qualidade e imponência mas em que, mais uma vez, se apostou na regra: o que é de Braga não presta e paga-se uma fortuna para se ouvir o Coro da Sé do Porto e a Sinfónica da mesma cidade. É certo que foi uma entidade particular que "ofereceu" o concerto. Mas... quem o sugeriu? Onde se realizou? Quem manda no local? E se, com a mesma verba, se fosse apostando em quem por cá trabalha? Na realidade já sou profissional da música, sobretudo litúrgica, nesta cidade de Braga, há quatro décadas e sempre dirigi coros (e não só), mas nunca recebi mais do que um ramo de flores. Com que dinheiro se compram capas, fotocópias, fardas, instalações, deslocações.... sem falar no caso de alguns grupos que pagam aos maestros?
O Conservatório de Braga e a Irmandade de Santa Cruz também "ofereceram" dois concertos, os mais bracarenses de todos pela origem dos artistas envolvidos nos mesmos. A Freguesia de S. Vítor e o Hospital de S. Marcos trouxeram músicos de outras proveniências. Olhando para o futuro, qual o saldo positivo destes eventos culturais? A Comissão de Música sacra de Braga que papel teve nestas escolhas? Lembram-se que não era assim há duas décadas atrás? Para onde caminhamos? A doença da "empreiteirite", muito do agrado da Câmara de Braga, também chegou à esfera da piedade religiosa e, concretamente, da música?
Valha-nos, lá do céu, Manuel Faria, Benjamim Salgado, Joaquim dos Santos e Fernandes da Silva. Vinde livrar-nos destes novos empreiteiros da "música sacra". Vinde restabelecer a ordem no "convento".